Notícias às 08:11

Marcelo Serrado admite as dificuldades para fazer o Tonico, em Gabriela

Luiza Dantas / Carta Z Notícias

Marcelo Serrado demorou a se encontrar em Gabriela. Escalado para a novela das 23h quando ainda interpretava o mordomo Crô, de Fina Estampa, o ator teve dificuldades de encarar outro personagem carregado de humor com tão pouco tempo de preparação.

"Fiz o Tonico na coragem. Só fui curtir o personagem depois que a trama já estava rolando. Foi um exercício de versatilidade", acredita Serrado que, no momento, lamenta o fim do trabalho.

"É sempre difícil! São meses de dedicação e de uma hora para outra é só lembrança", analisa o ator de 45 anos.

Marcelo Serrado admite as dificuldades para interpretar o Tonico de GabrielaCarioca, formado pela CAL Casa das Artes de Laranjeiras – Serrado estreou na televisão em Corpo Santo, de 1987, na Manchete. Na década seguinte, acumulou personagens medianos em tramas globais como Quatro Por Quatro e Por amor, até que em 2006 trocou a Globo pela Record, onde passou a protagonizar produções como Vidas Opostas.

"Fiz trabalhos fascinantes na Record e que redefiniram meus personagens quando voltei para a Globo", admite.

Atualmente, pelo desempenho como Crô e como o cafajeste Tonico, Serrado diz estar vivendo seu momento de maior popularidade.

"Me sinto abraçado pelo público. É algo que nunca senti antes", valoriza.

OFuxico – Tanto Tonico quanto Crô fogem do naturalismo e são tipos de composição. Com o pouco tempo entre o final de Fina Estampa e o início das gravações de Gabriela, você teve receio de se repetir na criação desses personagens?

Marcelo Serrado– Com certeza. A direção da Globo foi gentil comigo e me deixou bem à vontade para dizer não. Mas eu fiquei feliz com a possibilidade de desenvolver personagens tão diferentes em tão pouco tempo e acabei topando. Ambos têm tiques, manias de linguagem e gestual específico. O complicado foi esquecer de vez por todas o Crô para focar no Tonico. Isso foi acontecendo aos poucos.

OF – Além da diferença entre os papéis, o que mais o instigou a participar de Gabriela?

MS – Pode parecer clichê, mas de verdade, eu sempre quis fazer Gabriela e desde que li o romance Gabriela Cravo e Canela pela primeira vez, me encantei com a figura do Tonico Bastos. O livro foi bem marcante para mim. Engraçado que depois desses dois trabalhos, estou sendo convidado para personagens ainda mais diferentes e todos carregados de composição. Outro dia um amigo meu me perguntou: "Você virou ator de tipos?"

OF – Isso o incomoda?

MS – De forma alguma. É meu encontro com o público. E acho que embora esses personagens sejam cômicos e de uma atuação bem específica, eles são bem escritos, existe uma consistência. Encontrei com o (comediante) Leandro Hassum dia desses e ele me falou: "você deve estar naquela fase em que o público o vê no shopping e começa a rir". É exatamente isso. São personagens que agregam leveza e popularidade. Isso repercute em tudo o que faço.

OF – Como assim?

MS – Ao longo das gravações de Gabriela, fui ganhando segurança para atuar. Me senti tranquilo e comecei a viajar com o espetáculo Não Existe Mulher Difícil, que eu reestreei logo depois de Fina Estampa. É uma loucura! Dia desses colocamos 3 mil pessoas em um teatro de Recife. A produção teve de abrir uma sessão extra. Me senti abraçado pelo público, que começou a acompanhar mais o meu trabalho.

OF – Depois de um personagem de sucesso como o Crô, você se preocupou em continuar em uma linha de papéis de apelo mais popular?

MS – Acho que a pressão era mais externa do que interna. Quando você vem de um sucesso sempre esperam o seu próximo passo. Eu decidi fazer o que estava realmente interessado. Poderia muito bem ter esperado o convite de uma próxima novela das nove. Mas fiquei bem feliz com a possibilidade de fazer um folhetim das 23 h, um horário que foi retomado tem pouco tempo. Em uma trama que funciona como um painel de Jorge Amado, da Bahia. Está certo que meu personagem é um dos protagonistas, mas é um produto de visibilidade menor, exibido em uma faixa que dá 20 e não 40 pontos de média.

OF – Foi difícil recriar um personagem lembrado e já vivido com competência pelo Fúlvio Stefanini?

MS – Bastante. E para evitar comparações eu fui por um caminho oposto ao dele. Não sei se a atitude foi certa ou errada, mas eu não queria bater de frente com o trabalho do Fúlvio. Meu Tonico está na linha tênue entre o humor e a falta de caráter. Modifiquei minha voz, botei um queixo diferente, nas cenas mais cômicas, não me inspirei no que foi feito na novela de 1975, mas sim no Alberto Roberto, personagem do Chico Anysio (risos). Li algumas críticas comparando, dizendo que estou imitando, mas algo que está dentro do previsível.

OF – Como você lida com as críticas?

MS – Tento entendê-las e melhorar. Mas sinceramente, quando li em alguns jornais que estava tentando imitar a atuação de uma ator da qualidade do Fúlvio, fiquei muito feliz. Encarei como um elogio, pois o Tonico dele é maravilhoso. No entanto, quis fazer um outro personagem, assim como todos os atores envolvidos nessa outra adaptação de Gabriela. 

OF – E qual o saldo de ter interpretado Tonico Bastos?

MS – Eu demorei a me sentir feliz, a encontrar prazer neste trabalho. Vim de um personagem marcante, sem muito tempo de preparação. Então, eu não me divertia no começo. Ficava preocupado em mudar. Lá pelo capítulo 30 é que eu comecei a brincar com o personagem, a me soltar mais. Acho que valeu muito a pena ter adiado as minhas férias (risos). Até para o público não enjoar de mim, só devo voltar aos folhetins no final de 2013. Tive um monte de convites para produções que vão entrar no ar logo no primeiro semestre, alguns até bem interessantes. Mas tive de dizer não.

OF – É difícil recusar papéis?

MS – Muito! Mas também é necessário. Engraçado. De pronto, eu disse "não" para "Gabriela". Mas parei para pensar melhor e aceitei. Segundo os diretores, estava difícil achar um ator para o personagem. Aí acabei acertando minha participação. Estou esgotado e preciso me reciclar, esse é meu pensamento para não me envolver em nenhuma produção que possa estrear logo.

OF – A primeira fase de sua carreira na Globo é marcada por papéis bem lineares e comuns. Você acha que sua ida para a Record foi importante para mudar este panorama nessa sua volta à emissora?

MS – Tenho certeza (risos)! Na Record pude experimentar, interpretar tipos fortes e complexos. Inclusive, essa onda de personagens de composição vem de novelas como Vidas Opostas, onde dei vida a um delegado maluco, ou as ambiguidades do Bruno de Poder Paralelo. Na Record, eu aprendi que é melhor errar do que pecar pela mesmice.

OF – Você estreou na tevê aos 20 anos, mas teve seus melhores papéis depois dos 40. O que a maturidade agregou à sua atuação?

MS – Eu fui construindo minha carreira. Acho que, depois de um tempo na tevê, comecei a conviver melhor com os percalços dessa trajetória. Aprendi a encontrar o prazer de cada trabalho, mesmo que eu não estivesse tão satisfeito. Uma hora, você toma as rédeas de suas decisões e foi isso que aconteceu. Hoje só faço que realmente me interessa.

OF – Depois de dois personagens carregados de humor, quais serão seus próximos passos na televisão?

MS – Personagens diferentes tornaram-se uma busca para mim. Estou dividido por duas produções. Em uma será um papel bem dramático e na outra um galã bem no estilo dos folhetins. Estou na dúvida, mas o legal é que vou poder escolher de maneira bem calma o que vou querer fazer (risos).

Gabriela – Globo – de terça a sexta, às 23 h.             

Outros ângulos
Longe da tevê depois de atuar em Fina Estampa e Gabriela, Marcelo Serrado continuará em ritmo intenso de trabalho. Paralelamente à turnê nacional da peça Não Existe Mulher Difícil – que fica em cartaz até o final do ano –, ele começa a preparação para viver o maestro brasileiro João Carlos Martins na cinebiografia que será dirigida por Bruno Barreto.

"Vamos filmar entre fevereiro e março em locações no Brasil, Estados Unidos, Colômbia e Alemanha. É uma história de superação e eu estou muito envolvido com o projeto", garante o ator, que vem tendo encontros regulares com o maestro e já arrisca alguns acordes no piano.

Logo depois de contar a história de Martins, Serrado já se embrenha em outro projeto de longa-metragem, só que com um personagem bem familiar: Crodoaldo Valério, o Crô. Com roteiro de Aguinaldo Silva, o filme também será dirigido por Bruno Barreto e abordará os dilemas do personagem, que no final de Fina Estampa, foi beneficiário da herança de Tereza Cristina, a insana patroa interpretada por Christiane Torloni.

"É muito empolgante reviver esse papel. Vai ser um filme bastante popular, onde o Crô estará rico e triste. Na história, ele procura uma nova patroa, pois não consegue viver sem ter alguém mandando nele", diverte-se.

Pequeno detalhe
Além do pouco tempo de preparação parar Gabriela, outra coisa que incomodava Marcelo Serrado no início das gravações da novela era o bigodinho de Tonico Bastos. A sugestão do bigode partiu da equipe de caracterização da novela e foi prontamente aceita pelo ator. Mas gerou certo desconforto, principalmente estético.

"Me olhava no espelho e me achava horroroso! Mas tudo em nome da arte, né?", entrega Serrado, aos risos.

Trajetória Televisiva

# "Corpo Santo" (Manchete, 1987) Carlinhos.

# "Pacto de Sangue" (Globo, 1989) – Antônio.

# "Brasileiros e Brasileiras" (SBT, 1990) Boca.

# "Desejo" (Globo, 1990) Quidinho.

# "Mico Preto" (Globo, 1990) Robin.

# "O Dono do Mundo" (Globo, 1991) Umberto.

# "Anos Rebeldes" (Globo, 1992) Edgar.

# "O Mapa da Mina" (Globo, 1993) – Sílvio.

# "Quatro por Quatro" (Globo, 1994) Danilo.

# "Quem é Você" (Globo, 1996) – Iuri.

# "Por Amor" (Globo, 1997) – César.

# "Labirinto" (Globo, 1998) Junior.

# "Pecado Capital" (Globo, 1998) – Vinícius.

# "Força de um Desejo" (Globo, 1999) – Mariano.

# "Porto dos Milagres" (Globo, 2001) Rodolfo.

# "Sabor da Paixão" (Globo, 2002) – Nelson.

# "Mad Maria" (Globo, 2005) Jim.

# "Prova de Amor" (Record, 2005) Daniel.

# "Vidas Opostas" (Record, 2007) – Dênis.

# "Mandrake" (HBO, 2007) Raul.

# "Poder Paralelo" (Record, 2009) Bruno.

# "Fina Estampa" (Globo, 2011) Crodoaldo.

# "Gabriela" (Globo, 2012) Tonico.

Marcelo Serrado vai ser papai novamente
Marcelo Serrado toca piano com maestro João Carlos Martins
 

Notícias Relacionadas