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Miguel Falabella: ‘Estou cansado, chega’

Ag News

Difícil acreditar, mas Miguel Falabella – um dos artistas mais dinâmicos e multifacetados do país – vai parar.   Com um musical em cartaz e um seriado no papel, ele revelou à reportagem de OFuxico que cansou e está desanimado. Embora seja apaixonado pelo ofício, Miguel, aos 59 anos afirmou estar cansado. Confirma esse e outros desabafos do artista na entrevista a seguir.

OFuxico: Você está estreando a temporada carioca de um suntuoso musical, que já fez sucesso em São Paulo. Como lidar com isso em tempos de crise? Houve alteração para amenizar gastos?

Miguel Falabella: Não mudei nada. Dei sorte porque a captação foi anterior a isso tudo. Quando estourou a tal da crise, já tínhamos Lei Rouanet e parcerias fechadas. O problema é daqui pra frente…

OF: Então significa que seu próximos  trabalhos serão mais simples?

MF: Quais próximos trabalhos? Pela primeira vez na vida, você pode me perguntar sobre meus projetos e eu vou te dizer, com tristeza: nenhum. Não tenho absolutamente nada para fazer. Nada, nada, nada. Sempre tive 4, 5 coisas borbulhado, efervescentes para fazer. Esse ano não tem nada.

OF: Mas não existe um seriado para a TV?

MF: Sim, a única coisa que tenho de concreto é o Brasil à Bordo, esse já está em andamento, estou escrevendo. São 12 episódios, mas ainda não faço ideia de quando começaremos a gravar. E, depois dele, nada mais a fazer.  

OF: Não havia também um texto para a Adriana Esteves?

MF: Ah sim estava escrevendo para a Marília isso eu quero sem fazer Com a morte dela, passei a escrever para a Adriana Esteves. Mas não faço ideia se vai rolar mesmo. Certo, só o Brasil à Bordo. Eu, Arlete Salles, Latorraca, Dani Calabresa, Luis Gustavo, só gente boa.

OF: Por que você não quer?

MF: Terei que ficar implorando? Ventila-se a possibilidade de acabar a Lei Rouanet. É com ela, é através dela, que é possível fazer turnês, pagar hospedagens, passagens, custear uma temporada. Teatro musical, no Brasil, não se paga. A bilheteria fica no vermelho. Não há exceção. Sem a Lei, sem empregos. Demoramos tanto a conquistar uma boa qualidade e quando  estamos num patamar legal vem isso. Não posso firmar um compromisso e ficar na incerteza.  

OF: Uma saída, então, seria fazer espetáculo tradicional, deixar de fazer musicais?

MF: Só se fosse eu e mais um no palco Um casal. Mais nada. Uma comédia de casal. Para o nível técnico que  teatro nacional chegou, será uma decepção para as novas gerações que estão aí porque aprenderam a amar isso com a gente. Perderemos a continuidade. É depressivo. A gente para tudo e sabe-se lá como vai ser.

OF: Ao mesmo tempo, surgem novos prêmios para o teatro, não é um incentivo?

MF: Ninguém come prêmio! Ninguém tem sequer roupar para ir à prêmio! Black-tie? Eu não tenho! Engordei, o que eu tinha não cabe mais. Se precisar, alugo. Não tem mística! Tudo o que o americano faz, tem mística. Se decidem homenagear o pipoqueiro da esquina, vão todos para o red carpet. Aqui não tem mística. E o problema não é do teatro. A gente tem que brigar e continuar fazendo teatro de excelência que conseguimos fazer. Mas a pena é que nenhum espetáculo se paga…

OF: É o fim, então?

MF: Não! O teatro jamais morrerá! Sempre terá um maluco querendo fazer. Mas é a geração dos netos de vocês que vai assistir grandes musicais outra vez. Tudo é dinheiro…

OF: Posso, então dizer, que você pode ser esse maluco em questão?

MF: No momento, não. Estou muito cansado. Chega! Vou fazer 60 anos em outubro, já contribuí muito tá bom assim…

OF: Você ficou muito chateado com a repercussão negativa de Sexo e As Nega. Ainda são ecos dessa insatisfação?

MF: O que passei foi indescritível. Só nesse fim de mundo, nesse país ignorante.

OF: Mas Pé na Cova aliviou isso.

MF: Graças a Deus eu acho que Pé na Cova fica pra história da TV brasileira. Um programa que conseguiu ser popular, poético, filosófico e humano e absolutamente verdadeiro Foi um acerto, e olha que sofri boicote no começo! Sofri bullying, a babá foi muito cortada porque achavam um absurdo uma mulher desdentada, louca, preta, gritado piranha. Mas isso é o Brasil. O Brasil é uma mulher louca, desdentada, gritando ‘piranha’, desculpe. É só andar na rua, tá cheio de zumbi americano é que tem medo dessas coisas, a gente tira de letra.  

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