Bom Dia,Verônica: Fé, poder, corrupção em excelente 2ª temporada

Por - 12/08/22 - Última Atualização: 11 agosto 2022

Banner promocional "Bom Dia, Verônica"(Reprodução/Divulgação)

(ALERTA SPOILER)

Uma das séries mais aclamadas produzidas pelo Brasil é “Bom Dia, Verônica”, inspirado na obra de Ilana Casoy e Raphael Montes e com uma segunda temporada, ligeiramente mais curta, com dois episódios a menos que a primeira, porém com uma tensão enorme, e eletrizante do começo ao fim. Antes de começar, teremos bastante spoilers da segunda temporada, e pode conter alguns gatilhos referentes à temas sensíveis como estupro, abusos psicológicos.

A segunda temporada começa exatamente de onde a primeira parou: Verônica Torres está morta, supostamente, e Janete Cruz está viva. Porém, a ex-escrivã do departamento de homicídios. A primeira cena é de cara “um tiro”: Anita Berlinger (Elisa Volpatto) está com o delegado Carlos Alberto (José Rubens Crachá) fazendo trocas de propina, e sendo fotografados por Verônica (Tainá Müller). Ela não é avistada, porém, comete um deslize e quase é assassinada. Daqui para a frente a trama foca na investigação para derrubar a máfia.

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Enquanto isso somos apresentados a uma família aparentemente normal: Matias (Reynaldo Gianecchini) é um missionário, rico, que tem uma grande igreja e um enorme número de seguidores fiéis. Junto a eles somos apresentados a Ângela (Klara Castanho) e Gisele (Camila Márdila). O que todos não sabem é que por trás da faixada de “homem de Deus”, ele é um grande abusador de mulheres, e faz tudo isso abusando da fé das vítimas. Além disso, a trama do Orfanato Cosme e Damião volta, e agora somos apresentados a um esquema mais aterrorizante: A Casa Dos Santos. Jovens são treinados, roubados de suas famílias, ou até vendidos por grandes quantias, e treinados para infiltrar os poderes. Os que não são “dignos” ou “sem técnica”, são traficados com a promessa de uma vida melhor para a Colômbia.

INSPIRAÇÕES

Aqui existem grandes nomes que usaram a fé para conquistar dinheiro, ou coisas piores, porém, o que observamos é que o grande e repulsivo vilão é muito inspirado no caso real de João de “Deus”, o médium de Abadiânia, que estuprou milhares de mulheres, e só foi escancarado a público quando um grupo de mulheres uniram suas forças e expuseram casos de abusos e estupros. A questão aqui é que assustador como Matias tem o mesmo olhar penetrante e intimidador como o médium, e como suas histórias têm pontos de convergência: As pílulas placebo de cura, as escolhidas sendo mulheres jovens e com muita fé, com problemas crônicos como enxaquecas, câncer, ou até problemas para engravidar.

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Uma diferença: Matias conta com a “ajuda” forçada de Gisele, que escolhe as mulheres baseadas no perfil que o mafioso atrai para sua teia. João escolhia por vontades próprias e carnais. Um ponto bastante forte é a obsessão pela filha. Neste caso, Ângela é o “objeto” de desejo. Já para João, Dalva, sua filha, foi uma das suas grandes vítimas. Inclusive tem uma cena que a garota tem que desmentir as acusações do pai, semelhante ao que João fez com Dalva, para ela poder ver os filhos novamente, quando ele a obrigou a gravar um vídeo fazendo carinhos e dizendo que seu pai era um homem santo. Os dois tem pontos muito convergentes e em outro momento, uma nova personagem diz exatamente o que todas as vítimas falaram: Que os abusos são “o espírito se curando”, algo absurdo e inconcebível.

ADIÇÕES DE ELENCO

Cena de Bom dia Veronica Netflix
Reprodução/Netflix

Dos nomes que entraram na segunda temporada, alguns deles são pontos chaves. Klara Castanho faz uma protagonista excelente, e que em muitos momentos apenas com o olhar, sem nenhuma fala, transmite toda a dor que a garota está passando, todo o medo, e toda a vontade de se libertar de um pai abusivo, maníaco, monstruoso. Camila Márdila traz uma personagem cheia de camadas: Gisele é uma mulher enigmática, submissa, mas, que ganha muita força no meio pro fim, quando sua história é revelada, e dá um banho de atuação no momento de desmascarar o vilão. Ester Dias, que faz a ótima delegada da delegacia das mulheres, aliada à Verô e comprometida com a investigação. Ester traz força para um papel, com uma personalidade única. E por último, Reynaldo dá vida à um vilão extremamente asqueroso, com um sotaque perfeito, e com o olhar preciso. Por muitos momentos, a sua postura já é intimidadora, e traz uma tensão necessária e momentos que são de arrepiar todos os pelos do corpo.

VERDADE OU CONSEQUÊNCIA

Ao entrar no passado, descobrimos que Matias era muito ligado à Janete (Camila Morgado) e Brandão (Eduardo Moscóvis), e que inclusive, mostra lados mais perigosos. No final, Janete passava pelo tal tratamento do missionário, o que nos leva a crer que ela foi abusada por ele. Já Brandão é tido como um irmão pelo criminoso. No quarto episódio todas as verdades são reveladas, e em um dos momentos mais tensos, Matias descobre que Verônica está hospedada em sua casa. No final, um jogo de Verdade ou Consequência tenso traz a tona uma das facetas mais execráveis do vilão. Ele obriga Gisele a se mutilar e usar um cinto cheio de ganchos para se punir, dos erros que supostamente ela comete. Mais para frente, a obsessão dele ganha mais forma, e o passado trágico é revelado: Ela é filha do missionário, Ângela é sua irmã, porém, fruto de um incesto, fazendo com que ela se torne mãe da garota. E toda a casca que ela parece ter contra a garota cai de vez no chão, que nos leva ao ato final, onde juntas, elas desmascaram o mafioso, porém, não terminaria assim.

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Para uma possível terceira temporada, somos deixados no ar que existe um terceiro irmão, e que agora irá tentar atrair a filha de Verônica para a sua teia, como forma de vingança. Frente a um Matias desmoralizado, e com pouca força, ele irá assumir tudo. Verônica inicia uma nova investigação, com a ajuda de Glória, e os créditos sobem.

VEREDITO

É incrível quando uma série densa se torna fluída. São apenas 6 episódios, a história ocorre de forma natural, sem muitas conveniências, e com um tom de verdade, porque são histórias que ouvimos todos os dias. A violência contra a mulher é uma das coisas mais fortes da série, mas aqui, o abuso de poder, a corrupção e o abuso de fé, se unem a isto e deixam a trama pesada, não a toa é para maiores de 18 anos, pois existem cenas extremamente pesadas. Vale ressaltar alguns pontos: Ângela sofre de alotriofagia, uma condição que faz com que a pessoa tenha desejo de comer objetos que não são comestíveis. Aqui ela come botões, pérolas, brincos, e sempre quando está nervosa, ou sofreu algum trauma. As cenas de abuso foram cortadas em respeito a dor de Klara Castanho, mas, é explícito toda vez que acontece algo com ela.

Outro ponto que vale ressaltar é que escancaradamente é mostrado que aquele pai que “salva vidas”, odeia o fato de Ângela ser lésbica, e tenta fazer de tudo para a afastar de Carol (Liza Del Dala), seu interesse amoroso. E deveria ser a pessoa que a protege e abraça as diferenças, vindo de um lugar sagrado, mas, não é o que acontece. A hipocrisia é enorme. Já Verônica descobre que Rafa (DJ Amorim) tem um namorado, e é uma das cenas mais lindas e emocionantes quando ele assume que é apaixonado em um garoto para a mãe, que já tem a carga emocional de ela ter acabado de salvá-lo de um sequestro a mando de Matias, e que tudo isso culmina em um “Você é a mãe mais fod… que conheço”

Postêr oficial de divulgação de "Bom Dia, Verônica"
Nova temporada da série “Bom Dia, Verônica” conta com a adição de Klara Castanho e Reynaldo Gianecchini (Reprodução/Divulgação)

No mais, até Anita consegue uma certa redenção, mostrando que foi uma das vitimas de Matias, e que uma vez dentro do esquema, você só sai morto. O saldo é extremamente positivo, aqui não tem um meio termo. Todos os episódios tem cenas eletrizantes e sufocantes, dolorosas e revoltantes. Até os diálogos que tinham uma certa fraqueza na primeira temporada, neste aqui ele encontra uma força muito maior.  Mas, no fim, ela retrata a vida real e mostra como tantos crimes são colocados para debaixo dos panos mesmo. Estamos na torcida de uma terceira temporada urgente.

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Em formação no Jornalismo pela UMESP. Escreve sobre cultura pop, filmes, games, música, eventos e reality shows. Me encontre por aí nas redes: @eumuriloorocha