Faustão recebe um novo coração. Especialista explica porque dinheiro não compra prioridade

Por - 27/08/23 às 20:08

Faustão recebe um novo coração. Especialista explica por que dinheiro não compra prioridadeFausto Silva no palco de seu programa da Band - Foto:Renato Pizzutto/Band

Neste domingo, 27 de agosto, Fausto Silva, 73 anos, que estava na fila do SUS esperando por um transplante, recebeu um novo coração. A cirurgia demorou 2h30 e foi definida pelos médicos como um sucesso. O apresentador estava internado na UTI desde o dia 5 de agosto, tratando uma insuficiência cardíaca e fazendo diálise.

A cirurgia foi feita pelas equipes dos médicos Dr. Fernando Bacal, cardiologista, Dr. Fábio Antônio Gaiotto, cirurgião cardiovascular, Dr. Miguel Cendoroglo Neto, Diretor Médico e Serviços Hospitalares, todos do Hospital Israelita Albert Einstein”

Retrato do Dr José Pedro Esteves Dias, cirurgião cardiovascular, especialista pela Sociedade de Cirurgia Cardiovascular, com experiencia em transplante cardíaco
Retrato do Dr José Pedro Esteves Dias, cirurgião cardiovascular, especialista pela Sociedade de Cirurgia Cardiovascular, com experiencia em transplante cardíaco – Foto: Divulgação

Dinheiro não compra prioridade

Para esclarecer os motivos que levaram Fausto Silva a ter prioridade na fila de doação, OFuxico conversou com o Dr. José Pedro Esteves Dias, médico cirurgião cardiovascular, especialista pela Sociedade de Cirurgia Cardiovascular, com experiencia em transplante cardíaco, que explica de maneira detalhada os critérios utilizados para a escolha do apresentador entre todos os pacientes que aguardam na fila do SUS.

“Todo paciente que tem insuficiência cardíaca, e está naquela fase de aguardar o órgão para transplante cardíaco, fica em ambiente domiciliar aguardando. Mas quando o paciente piora, o caso se complica, ele vai para o hospital. No caso do Faustão, ele teve uma piora muito, muito considerável. Nesse caso é independente de ser Faustão ou a instituição Albert Einstein. Até porque, lá no próprio Einstein existe um programa vinculado ao SUS pela própria filantropia que o hospital tem, onde existem enfermarias de pacientes que estão na lista de transplante”, explica Dr. José Pedro.

“Faustão estava com um quadro muito, muito grave. Além de estar internado ele teve que ser conduzido a UTI e começou a fazer falência de múltiplos órgãos e sistemas. E quando você se encontra nessa situação, não é o dinheiro, mas sim a urgência pois, caso contrário, o paciente vai morrer. O caso dele foi exatamente esse, quer dizer ele estava dentro de uma instituição que tem um programa fidelizado junto a secretaria de doação de órgãos, um programa de transplante que funciona muito bem, repito, também para pacientes de SUS pela filantropia, mas no caso do Faustão ele estava pior do que todos aqueles que ali se encontravam. Faustão declinou muito da sua insuficiência cardíaca, entrou em fase de falência de múltiplos órgãos e sistemas. Quer dizer, ele estava já numa situação que se realmente perdurasse, provavelmente ele entraria em choque cardiogênico e seria intubado, esclarece o especialista.

“Então apareceu o órgão, a compatibilidade do órgão para com ele tornou-se viável em todos os critérios necessários e aí passa na frente independente da condição financeira. Passar na frente poderia acontecer com qualquer outro paciente que estivesse nas mesmas condições”, salienta.

Entenda o boletim médico em detalhes

No final da tarde desata domingo a equipe médica responsável pelo caso de Faustão emitiu o primeiro boletim pós cirurgia. Dr. José Pedro explica detalhadamente os termos usados no comunicado.

“Quando se emite o boletim dizendo que o procedimento cirúrgico tecnicamente foi perfeito, é porque ele entrou em circulação extracorpórea, que é a circulação fora do corpo. Tirou-se o órgão doente e colocou-se o órgão do doador que é absolutamente perfeito. Funciona muito bem. Aí foram feitas as suturas, a técnica foi realizada, e o coração doado está batendo muito bem. Essa circulação extracorpórea foi desligada e agora o Faustão tem um coração normal dentro do corpo dele”, esclarece o médico.

“Nas as primeiras horas  dificilmente você tem instabilidade de rejeição. É tudo uma questão de pós-operatório convencional, sangramentos, arritmias, tudo pode acontecer. Não acontecendo nada disso, nenhum sangramento importante, nenhuma arritmia, ele vai acordar da anestesia e automaticamente o coração, mantendo um bom débito cardíaco, pressão arterial, frequência cardíaca, um pouquinho de apoio de drogas, todos tem no pós-operatório, urinando bem e mantendo as funções vitais OK, ele será estubados,  ficará em observação na UTI e já começará a tomar os medicamentos para evitar a rejeição, os imunossupressores no caso. Não é de imediato que você vai ter critério de rejeição. A rejeição vai aparecer, se aparecer ao longo dos dias e semanas, mas hoje é muito difícil a rejeição haver porque você seleciona um órgão que tenha compatibilidade em todos os sistemas, no painel imunológico, na ABO RH… É pouco provável que você tenha, nessas condições, uma rejeição. Até porque na realidade as medicações são de qualidade muito superior. É basicamente isso. Depois disso tudo resta aguardar, porque eu acho que a evolução vai ser muito boa”, conclui Dr. José Pedro.

*Para entender melhor os termos usados pelo especialista explicamos aqui os mais desconhecidos: “O sistema ABO são classificações do sangue humano nos quatro tipos existentes: A, B, AB e O. Fator Rh é um grupo de antígenos que determina se o sangue possui o Rh positivo ou negativo. A herança sanguínea indica o tipo sanguíneo de uma pessoa, e  é determinada geneticamente, sendo um caso de alelos múltiplos, pelos genes IA , IB e i”.

Como funciona o sistema do SUS para translantes

Em longa entrevista publicada por OFuxico em 21 de agosto, Dr. José Pedro explicou como funciona o sistema do SUS para escolha do paciente que recebe um órgão:

“Funciona da seguinte forma: se entrou um doador, que tem condições de doar os seus órgãos e a família assim o faz, pelo consentimento, é feita a retirada dos órgãos e é levado para o receptor que se encontra na sequência da lista. Ninguém passa na frente de ninguém. Os exames avaliam a compatibilidade do doador com o receptor e eles precisam bater. Caso não estejam batendo, por exemplo, o receptor que está na frente o não bate o tipo ABO RH, tipo sanguíneo, o índice de massa corporal, o perímetro não bate com o do doador, então esse receptor fica escanteado, vai para o segundo da lista. A lista é obedecida.

Sobre críticas infundadas dizendo que a condição financeira de Faustão facilitaria sua prioridade na fila do SUS

“De maneira alguma, não é a condição financeira que vai fazer passar à frente, mas sim, a compatibilidade. Como disse acima, se quem está na lista antes dele não for compatível para receber o coração disponível, aí sim, ele poderia ser o receptor. É fundamental que haja compatibilidade. […] Não é o “ter mais dinheiro” que vai conseguir comprar porque isso não pode; isso é contra a lei. Ele precisa esperar a vez de ele chegar. Pode chegar rápido ou não. Por exemplo, quantos receptores estão aguardando no Einstein? [de acordo com o Sistema Nacional de Transplantes, o SNT, em nota divulgada na quarta-feira, 16 de agosto, estão na fila de espera cerca de 386 pessoas], explicou Dr. José Pedro em entrevista publicada anteriormente.

Na ocasião, OFuxico questionou o cardiologista sobre o que aconteceria se algum coração compatível aparecesse como disponível.

Dr. José Pedro respondeu: “Se aparecer algum coração que se adapte a ele e, teoricamente, os outros que estiverem na frente dele não tenham condição de receber o órgão por incompatibilidade, ele receberá logo. Hoje, no Brasil, há uma melhoria de doação de órgãos, doação de coração está muito maior, então, ele poderá receber logo”.

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Idealizadora do site OFuxico, em 2000 segue como CEO e Diretora de Conteúdo do site. Formada em jornalismo pela Faculdade Casper Líbero, desde os anos 1980 trabalha na área do jornalismo de entretenimento. Apaixonada por novelas, séries, reality, cinema e estilo de vida dos famosos.