Gloria Groove sobre arte drag no Brasil: ‘Estamos chegando no topo’

Por - 04/04/22 - Última Atualização: 21 junho 2022

gloria groove posando com peruca e look azul e olhando para baixoReprodução/Instagram @gloriagroove

Gloria Groove é sinônimo de arte e popularidade, e desde o ano passado vem conquistando ainda mais admiração dentro da indústria musical brasileira, e após o lançamento do seu segundo álbum de estúdio, “Lady Leste”, ela deixou sua marca no pop brasileiro.

Em entrevista para a revista 29Horas, a artista comentou sobre sua carreira, o sucesso de seu novo disco e também sobre o impacto da cultura drag queen na vida pessoal profissional e no Brasil de modo geral, sempre lembrando que “Gloria é uma extensão do Daniel, ela o potencializa de forma que não sei mais dizer onde termina um e começa outro”.

Logo de cara, a artista comentou sobre ainda morar na Vila Formosa, bairro da Zona Leste de São Paulo: “A Vila Formosa é um grande símbolo. É minha infância, minha adolescência e minha vida adulta sintetizadas”.

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“Apesar de já ter vivido em vários cantos de São Paulo muitas vezes de favor, debaixo do braço da minha mãe, que tinha uma carreira instável como cantora da noite –, a Vila me abrigou dos zero aos quatro anos de idade e, a partir dos doze, me proporcionou meus melhores anos, em colégios como Sagrado Coração e o José Marques da Cruz”, afirmou.

A ZL foi o palco dos meus primeiros rolezinhos de shopping, das minhas primeiras quermesses e festinhas, do meu primeiro beijo. Sinto que continuar aqui hoje é como decolar e ainda ter a possibilidade de manter os pés no chão”.

RAÍZES NA CARREIRA

Ela então comentou a influência das próprias raízes no álbum: “Esse álbum é um compilado das referências que colhi desde o início da minha carreira. Me nomeio ‘Lady’ em homenagem a todas as mulheres que me criaram artista e me apresentaram ao poder do meu feminino (de Gaga à minha mãe), e ‘Leste’ em honra às minhas raízes periféricas”.

Minha arte não se fez sozinha e, por isso, agrego tantos nessa nova era. Na presente Lady Leste, a ideia é apontar para o meu futuro dos sonhos, a partir de vozes que ajudam a contar o meu passado”.

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QUESTÕES SOCIAIS NA MÚSICA

Gloria Groove no palco, de macacão vermelho
Foto: Andy Santana/ AgNews

Em seguida, Gloria Groove comentou sobre lançar canções com letras profundas e de denúncia social em gêneros mais populares, como o pop e o funk:

“Sem dúvida. Esse estereótipo da arte popular como uma arte menor ainda resiste. Mas a verdade é que, quanto mais mainstream uma obra for, maior a sua potência de propagar mensagens e gerar mudanças”, garantiu.

É extremamente possível ser dançante e incisivo, chiclete e engajado, divertido e crítico, simultaneamente. Quando usamos a popularidade de um som para reivindicar transformações sociais, estamos fazendo arte popular na sua mais profunda essência”.

ARTE DRAG EM ASCENSÃO NO BRASIL

Gloria Groove cantando e Pedro Sampaio agachado atrás da mesa
Foto: Divulgação/ Globo/ BBB

Por fim, a cantora fez um passeio pela arte drag no Brasil: “Os últimos dez anos mudaram drasticamente o jeito como a arte drag é experienciada pelo grande público. Hoje existem referências globais do que é ser uma drag queen de sucesso. Criaram-se espelhos para nós e exemplos para eles”.

E isso tem impacto direto na forma como a sociedade aborda a cultura drag que reside nos palcos e nas boates mundo afora. Estamos atingindo um espaço de reconhecimento e respeito profissional que, há algum tempo, parecia inimaginável em um futuro tão próximo”.

“No Brasil, essa evolução se escancara com o sucesso de drags como Pabllo, eu, e tantas outras”, Gloria continuou. “O Brasil é mesmo paradoxal. Afinal, estamos falando do país que mais mata pessoas trans no mundo e, ao mesmo tempo, o que mais consome pornografia envolvendo pessoas trans, por exemplo”.

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Só com esses dados já é possível identificar o comportamento hipócrita e nocivo que se estabelece quando um país naturalmente diverso e multicultural é vítima de uma moral retrógrada e conservadora. É um lugar perigoso para a gente, mas estamos chegando no topo mesmo assim”.

“E eu acredito muito que isso acontece porque a cultura brasileira é poderosa, colorida e plural, assim como as nossas drag queens. No final, a cara do Brasil ‘é nóis’ e não eles”, concluiu Gloria Groove.

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Raphael Araujo Barboza é formado em Jornalismo na Faculdade Cásper Líbero. OFuxico foi o primeiro lugar em que começou a trabalhar. Diariamente faz um pouco de tudo, mas tem como assuntos favoritos Super-Heróis e demais assuntos da Cultura Pop (séries, filmes, músicas) e tudo que envolva a Comunidade LGBTQIA+.