Eric Clapton se recusa a cantar em locais que exijam vacina

Por - 22/07/21

Vacinado a contragosto no começo do ano, Eric Clapton não para de causar polêmica quando o assunto é a pandemia da Covid-19. Depois de aparecer cantando um “hino contra o confinamento” e ter feito críticas à vacinação em entrevista ao canal Oracle Films, o cantor e guitarrista afirmou que se recusa a realizar shows onde o público seja obrigado a provar que foi vacinado. Isso porque o primeiro-ministro britânico Boris Johnson anunciou na última segunda-feira, dia 19 de julho, que a partir de setembro os eventos com grande público deverão requisitar uma prova de vacinação para permitir a entrada das pessoas.

De acordo com a Rolling Stone, Eric Clapton respondeu à declaração de Johnson com uma mensagem própria através da conta do Telegram do cineasta e arquiteto Robin Monotti, na qual anunciou sua recusa em tocar em concertos onde a prova de vacinação seja necessária.

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“Após o anúncio do PM (primeiro-ministro) na segunda-feira, 19 de julho de 2021, sinto-me honrado em fazer um anúncio meu. Gostaria de dizer que não me apresentarei em nenhum palco onde haja um público presente discriminado. A menos que haja provisão para todas as pessoas assistirem, eu me reservo o direito de cancelar o show”.

Segundo a agenda publicada no site oficial do artista, o próximo compromisso de Eric Clapton está marcado para o dia 13 de setembro na Dickies Arena, no Texas, Estados Unidos. Na Inglaterra, onde a norma de shows com público 100% vacinado deve ser validada, ele tem shows agendados para os dias 7 e 8 de maio de 2022, no Royal Albert Hall, de Londres.

NEGACIONISTA

Depois de sentir os efeitos colaterais da vacina AstraZeneca que tomou contra a Covid-19 no início do ano, Eric Clapton sentiu, na sequência, as reações pelas posições que tomou durante a pandemia. Contrário às medidas de lockdown, inclusive lançando em parceria com Van Morrison uma canção que se opõe às restrições tomadas pelo governo britânico para conter a doença no país, Clapton também se posicionou em forte crítica à vacina. O artista afirmou que foi deixado ao ostracismo por amigos e até por sua família por conta de suas opiniões. Ele mesmo disse que suas falas, de cunho negacionista, conspiratório e antivacina, afetaram fortemente suas relações pessoais.

“Tentei entrar em contato com outros músicos, mas simplesmente não tenho mais notícias deles. Meu telefone não toca, não recebo mais e-mails, é bastante perceptível”, disse.

O guitarrista inglês afirmou ter um bom “detector de besteiras” para tais questões. 

“É tudo intuitivo pra mim, eu não sou um acadêmico, não sei nada de fato sobre sociologia, sobre ciência, eu sou um músico”, admitiu, apresentando até mesmo canais conspiratórios de YouTube como base de sua pesquisa.

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Afirmando ter medo de agulhas, o artista afirmou sofrer de neuropatia periférica, que tira a sensibilidade das extremidades do corpo, e disse que os efeitos colaterais da vacina o fizeram temer ter de deixar de tocar para sempre.

“A vacina pegou meu sistema imunológico e o sacudiu, me assustou muito. Desnecessário dizer que as reações foram desastrosas, minhas mãos e pés estavam congelados, dormentes ou queimando, e praticamente inúteis por duas semanas, eu temi nunca mais tocar. A propaganda dizia que a vacina era segura para todos”, disse.

O próprio artista admitiu, no entanto, que ficou bem após algum tempo, mas se assustou por não saber quanto tempo os efeitos iriam durar.

 “Acima de tudo, acredito na liberdade de expressão e movimento. E na vida, no amor e na gentileza. Eu vi desprezo dos dois lados e fui pego por este fogo cruzado”, afirmou.

O governo inglês não comentou as posições de Eric Clapton, mas disse que as mais de 56 milhões de doses de vacina aplicadas estão “salvando milhares de vidas por meio do maior programa de vacinação já realizado no país”.

FALAS RACISTAS

Essa não é a primeira vez que Eric Clapton se envolve em polêmicas públicas por emitir opiniões ofensivas: para declarar apoio ao ex-ministro conservador Enoch Powell durante um show em Birmingham, em agosto de 1976, ele disse palavras de cunho racista e xenófobo. Clapton afirmou na ocasião que o Reino Unido estava “superpovoado” e que era importante votar em Powell para que o país não se transformasse em uma “colônia negra” e se livrar “dos estrangeiros e dos pretos”.

O movimento “Rock Against Racism” (Rock contra o racismo) respondeu às posições de Clapton com declarações e grandes festivais – reunindo artistas como The Clash, Steel Pulse, Tom Robinson Band e mais para concertos com mais de 80 mil pessoas em Londres – a fim de lembrar das raízes negras da música britânica e se posicionar contra o racismo no país. Quando do lançamento do documentário “Eric Clapton: Life in 12 Bars”, sobre sua vida, em 2018, ao comentar o evento Clapton afirmou que o abuso de álcool e drogas o levou a tal comportamento, e em entrevista afirmou que “sabotava tudo em que se envolvia” e que sentia “vergonha” dos comentários, pelos quais pediu desculpas diversas vezes.

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É jornalista formada pela Universidade Gama Filho e pós-graduada em Jornalismo Cultural e Assessoria de Imprensa pela Estácio de Sá. Ela é nosso braço firme no Rio de Janeiro e integra a equipe de OFuxico desde 2003. @flaviacirino