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Atriz desiste de interpretar D. Ivone Lara em musical

Reprodução Instagram

Depois de ter sido escolhida para interpretar a falecida Dona Ivone Lara, no musical em homenagem à ela, com estreia prevista para setembro deste ano, a cantora Fabiana Cozza anunciou, pelas redes sociais, no domingo (03) que renunciou ao papel.

Ela teria recebido inúmeras críticas por "não ser tão negra". Em suas redes sociais, Fabiana publicou um texto explicando detalhadamente o motivo de não participar mais de Dona Ivone Lara – Um Sorriso Negro – O Musical!, dias depois de todo o elenco da produção ter sido anunciado. Fabiana interpretaria Dona Ivone na vida adulta.

"Aos irmãos: O racismo se agiganta quando transferimos a guerra para dentro do nosso terreiro. Renuncio hoje ao papel de Dona Ivone Lara no musical Dona Ivone Lara – um Sorriso Negro após ouvir muitos gritos de alerta – não os ladridos raivosos. Aprendo diariamente no exercício da arte – e mais recentemente no da academia, sempre com os meus mestres – que escuta é lugar de reconhecimento da existência do Outro, é o espelho de nós".

Filha de uma branca com um negro, Fabiana ainda destacou no texto que, em sua certidão de nascimento, é classificada como "parda".

"Renuncio porque falar de racismo no Brasil virou papo de gente 'politicamente correta'. E eu sou o avesso. Minha humanidade dói fundo porque muitas me atravessam. Muitos são os que gravam o meu corpo. Todas são as minhas memórias. Renuncio por ter dormido negra numa terça-feira e numa quarta, após o anúncio do meu nome como protagonista do musical, acordar branca aos olhos de tantos irmãos. Renuncio ao sentir no corpo e no coração uma dor jamais vivida antes: a de perder a cor e o meu lugar de existência. Ficar oca por dentro. E virar pensamento por horas".

"Renuncio porque vi a 'guerra' sendo transferida mais uma vez para dentro do nosso ilê (casa) e senti que a gente poderia ilustrar mais uma vez a página dos jornais quando 'eles' transferem a responsabilidade pro lombo dos que tanto chibataram. E seguem o castigo. E racismo vira coisa de nós, pretos. E eles comemoram nossos farrapos na Casa Grande. E bebem, bebem e trepam conosco. As mulatas. Renuncio em memória a todas negras estupradas durante e após a escravidão pelos donos e colonizadores brancos", escreveu.

Fabiana finaliza o desabafo propondo que se discuta o acontecido e destaca seu respeito aos familiares de Dona Ivone Lara.

"Renuncio porque, como escreveu André Abujamra e interpretou meu amado amigo Chico Cesar, “alma não tem cor”. E a gente chega lá".

 

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