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Dramas da TV abrem espaço para debate sobre violência doméstica

Divulgação/TV Globo

A TV, em especial as novelas, Mulheres Apaixonadas, séries, Coisa Mais Linda, e os programas policiais Brasil Urgente, Cidade Alerta e Alerta Nacional, aborda diariamente casos de violência doméstica (física, psicológica e sexual). Dados do Instituto Patrícia Galvão apontam que uma mulher é vítima de estupro a cada nove minutos, três mulheres são vítimas de feminicídio diariamente no Brasil, uma pessoa trans ou gênero-diversas são assassinadas a cada dois dias, uma mulher registra agressão sob a Lei Maria da Penha a cada 2 minutos. A pandemia da Covid-19 fez disparar o número de casos de violência em 30% em comparação ao mesmo período do ano passado.

Em entrevista ao OFuxico, Jaqueline Conceição, doutoranda em antropologia social da UFSC e fundadora e diretora executiva do Coletivo Di Jejê, analisa como no caso de Mulheres Apaixonadas e Coisa Mais Linda os casos se repetem às vezes deixando um ar de impunidade. Na trama global uma professora, Raquel (Helena Ranaldi) e uma empregada doméstica, Zilda (Roberta Rodrigues), são vítimas de violência de gênero, tema de curso gratuito que Jaqueline irá ministrar no dia 28/09, 14h, grátis, pela internet. 

Para a pesquisadora, a televisão, (por meio de novelas seriados e até mesmo filmes), é um espaço importante de construção do debate sobre cultura: “Nesse sentido, as problematizações feitas pelas tramas, ajudam as pessoas pensarem sobre as questões abordadas. O Brasil é uma sociedade violenta, os números envolvendo violência no Brasil são semelhantes ao de países em situação de conflitos armados (esses dados são do último Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2019), e um passo muito importante para é a problematização sobre toda essa violência. Sociedades violentas como a nossa, são sociedades marcadamente machistas, pois o sujeito mais vulnerável a violência são as mulheres e as crianças, no âmbito doméstico”. 

Conceição então destaca como o assunto é apresentado na dramaturgia e no jornalismo: “Essas são duas linguagens distintas. A dramaturgia tem uma forma de se apresentar, uma linguagem específica que permite brincar com a realidade. O jornalismo tem uma linguagem voltado para a realidade. Ambos podem ser educativos, seja no sentido de propor a reflexão  a partir da fantasia como no caso da dramaturgia, seja no caso de informar e esclarecer como no caso do jornalismo”. 

Jaqueline Conceição, doutoranda em antropologia social da UFSC e fundadora e diretora executiva do Coletivo Di Jejê

Celebridades também podem ser vítimas, como Luiza Brunet, Jaqueline destaca que a violência de gênero, não é escolhe classe, etnia ou religião: “Justamente por que ela está atrelada aos costumes culturais das sociedades. O Brasil é um País intolerante, violento e opressivo. As pessoas formadas aqui, a partir da nossa cultura, estão imersas dentro desse mundo. Claro, há denúncia, resistência, organização, movimentos por igualdade e pelo fim da violência contra as mulheres, mas isso só reforça o fato de quanto nossa cultura é machista, racista e violenta. Compreender isso, é a parte mais importante para o combate a violência de gênero”.

Ainda em Mulheres Apaixonadas, a empregada Zilda, interpretada por Roberta Rodrigues, é constantemente vítima de assédio sexual. Os estudos e vídeos sobre representatividade e feminismo negro de Jaqueline são referências entre intelectuais, artistas e ativistas, o que a credencia para falar sobre violência contra mulheres negras, que há séculos foram escravizadas e submetidas a diversas situações retratadas em tramas de época e até atuais: “A violência doméstica é maior na comunidade negra por dois fatores: as redes de proteção e de denúncia são menores, ou seja, as mulheres negras têm menos apoio do Estado para denunciar a violência doméstica, e se manter afastada do agressor; e num segundo momento, comunidades negras estão historicamente imersas em contexto de privação e violência”.

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