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‘Eu senti o poder da natureza no meu corpo’ diz Fernanda Machado sobre a maternidade

Divulgação/Shaun Walton

Fazendo parte de uma geração de mulheres que trabalham, cuidam da casa, e ainda conseguem um tempo para se dedicarem aos prazeres da vida, Fernanda Machado, 40 anos, é mãe de duas crianças, e conversou com exclusividade com o OFuxico para falar dos desafios da maternidade, nesta data especial, que deve ser celebrada. 

O poder transformador da maternidade 

“Eu brinco com as minhas amigas que são mães que o mundo se divide entre as pessoas que têm filhos e as que não têm, porque vemos o mundo diferente. Eu senti o poder da natureza no meu corpo, já sabia desse poder, mas nunca havia sentido tão claramente, e na gravidez, senti evoluir a cada dia. Você vê a natureza mudando o seu corpo drasticamente para gerar uma nova vida, depois a natureza age pra você parir."


"Eu tive um parto normal com o Lucca (5 anos) e pude sentir a força da natureza por muitas horas. O parto é transformador. Depois vem a amamentação, mais um poder da natureza, e você passa a enxergar um ser humano do zero, acompanha desde a barriga, vê o crescimento e o desenvolvimento. Eu digo que ter filhos é uma grande escola sobre a vida, sobre entender muito melhor o ser humano”. 

“Já no parto do Léo (11 meses), os médicos daqui (EUA) chamam de parto traumático, esse era o termo que eu ouvia nas consultas, que eu fui uma sobrevivente de um parto traumático. Eu tive uma placenta acreta, que é quando a placenta cresce na parede do útero, a placenta e o útero viram a mesma coisa. O sangramento foi enorme, em minutos eu estava perdendo litros e litros de sangue, foi uma situação de risco, mas a médica foi maravilhosa, fez de tudo pra salvar o meu útero, mas não deu certo, mas salvou a minha vida. Sempre digo que foi uma alegria quando o meu filho nasceu, mas depois um susto por causa da hemorragia. Eu já estava na segunda bolsa de sangue. Foi preocupante e difícil a retirada do útero, eu estava acordada, normalmente as pessoas fazem uma histerectomia quando estão com anestesia geral, mas eu estava apenas com anestesia da cintura pra baixo pra cesárea, eles retiraram o meu útero comigo acordada. Eu tentei manter a calma, mas no momento é claro que foi muito intenso”.

“Quando tudo passou, a única sensação que ficou em mim, foi de gratidão. Eu estava com o Leozinho o tempo todo no meu colo e eu só conseguia agradecer o fato de eu estar viva pra poder cuidar dos meus filhos. O meu tipo de parto, há anos, quando não existia cesárea, muitas mulheres e bebês faleceram. É claro que de vez em quando eu sentia uma tristeza, poxa, eu perdi esse órgão incrível que é o útero, que gera uma vida. Fica uma tristeza de não poder ter um bebê crescendo na minha barriga nunca mais, mas a gratidão é tão maior, por ter sobrevivido e ficado bem, pelo meu útero que me deu dois filhos, na verdade, três, porque eu tive uma perda estacional entre o Lucca e o Léo, esse órgão maravilhoso que eu acabei perdendo”, concluiu.

Criando os filhos longe da família 

“É mais difícil criar os filhos longe da família, antigamente as mães tinham um suporte maior, elas tinham os filhos rodeadas de familiares, a minha avó, por exemplo, que faleceu com 100 anos, teve 16 filhos, eles moravam numa fazendo com a família inteira, os filhos mais velhos ajudava a cuidar dos mais novos."


"Ser mãe nos dias de hoje é muito diferente, a natureza nos projetou para ser mãe rodeada pela família. No meu caso é extremo, porque eu não tenho família nenhuma em Santa Bárbara, Califórnia, eles moram no Brasil, e a família do meu marido é pequena. Ele perdeu a mãe, e o pai faleceu no ano passado, duas semanas antes do Léo nascer. Só temos a avó dele e a tia que moram em São Francisco. Estão longe da gente. Me dói estar longe. Sem a pandemia, os meus pais estavam sempre aqui ou eu no Brasil”.

“Mesmo morando em países diferentes, o Lucca sempre teve a presença dos meus pais, nunca passamos mais de seis meses sem nos ver. Eu sou muito ligada a eles. No parto do Lucca os meus pais estavam aqui, e só de pensar quando eu estava grávida do Léo, sem os meus pais por perto, eu já entrava numa crise de choro, de dificuldade pra assimilar essa realidade, até pouco tempo eu ainda chorava, mas sinceramente fui acostumando, por mais difícil que seja, vai fazer praticamente um ano que estou cuidando do Léo sozinha, eu digo sozinha, mas o meu marido está comigo, mas não temos uma família, não tem a casa da avó, da tia, não tem ninguém por perto. A tia e a avó do meu marido estão vacinadas, elas vieram nos visitar pela primeira vez depois de um ano, e conheceram o Léo, ficaram só dois dias. Esse apoio é muito importante. Eu tirei força do além, consigo falar sem chorar, mas já chorei bastante, e toda vez que eu penso que os meus pais não encontraram o Léo, que tristeza, mas ficamos no facetime praticamente o dia todo com eles, o que eu acho horrível, mas é a única maneira que eles podem ver os avós neste momento. Eu brinco que quando eles estiverem aqui, vou jogar o meu celular fora, porque não aguento mais, vai ser bom estar junto novamente, poder abraçar, e as crianças terem o carinho dos avós. A gente vive sonhando com esse momento. Se Deus quiser vai acontecer logo, logo”.

Dia das Mães

“Infelizmente, mais um Dia das Mães longe da minha família, caramba, um ano difícil pra todo mundo, no ano passado fiquei totalmente isolada porque eu estava grávida, começo de pandemia, muito medo, ficamos em casa. Em Santa Bárbara está melhorando, o hospital está vazio, às vezes tem dois casos confirmados, mais de 30% da cidade vacinada, todos os meus amigos já estão vacinados há mais de 15 dias, provavelmente vamos fazer um almoço na minha casa, com uma família de brasileiros que são nossos amigos."


"Estou morrendo de saudades da minha mãe, é muito difícil, não vemos a hora de tudo normalizar. Esse ano o Dia das Mães têm que ser celebrado, todas as mães precisam se sentir muito valorizadas por terem passado por um ano tão difícil. Sabemos que muitas crianças ficaram sem escola, as mães tiveram que dar conta da escola, da casa, do trabalho, tudo ao mesmo tempo. Elas merecem crédito porque foi um ano puxado”.

“Quem tem criança pequena sabe o quanto é difícil não ter escola, é difícil pra criança não brincar com os amiguinhos, se é difícil para o adulto, imagina pra uma criança que está no meio de um desenvolvimento. Uma criança como o Lucca, em que a parte social está sendo desenvolvida, ficar um tempo sem ter nenhum tipo de socialização com outras crianças, é muito difícil, por mais que a gente tenha que ficar isolado, as mães precisam celebrar.  O meu coração vai ficar cheio de saudades da minha mãe, querendo abraçá-la. Graças a Deus ela já tomou a segunda dose, nós também, estamos pensando em como fazer acontecer esse encontro. Se não me engano tem mais ou menos uns 15 meses que eu não os vejo. O coração fica apertado de saudade, mas com muita gratidão por estarmos todos bem e com saúde”. 

Tecnologia na infância 

“Essa geração nasceu com internet, redes sociais, eu fico feliz em pensar que nasci numa era que nada disso existia, a vida era mais simples, menos complicada, a tecnologia, a internet, trouxe muitos benefícios, mas complicou, principalmente na questão emocional, me preocupa quando eles forem adolescentes, porque as redes sociais podem ter impacto negativo, temos que tomar muito cuidado, eu pretendo educá-los sem smartfone e tablet. O Lucca tem quase 6 anos e não tem telefone e nem tablet, não vai ter tão cedo, eu também não dou o meu telefone pra ele, sei que tem gente que dá pra assistir, mas eu não gosto. Ele vai ter a vida inteira pra ter um celular.  Ele pode brincar com bola, na grama, no quintal. Estou fazendo de tudo pra evitar, mas sei que na escola vai ter a introdução em algum momento, a única tela que o Lucca assiste é a televisão e tem também um limite. Eu desacelerei na vida porque quero educar os meus filhos muito bem, quero estar presente, quero que sejam adultos saudáveis mentalmente, que percebam que são amados, que tenham segurança, e que esse amor é o que eles irão dar para outras pessoas”.

Vacinação

“Esse ano tem sido muito louco porque parece que estamos vivendo num mundo paralelo. Por aqui os números começaram a cair. É difícil comemorar quando a gente sabe que no Brasil as coisas não estão bem. Quando eu tomei a segunda dose, era pra comemorar, mas recebi a notícia de que a minha tia estava sendo entubada e naquele mesmo dia ela faleceu. Eu desmoronei. É triste e difícil respirar aliviados. Eu e o meu marido já estamos vacinados, só as crianças que não, existem estudos clínicos, até tivemos a oportunidade de colocar o Lucca, mas achamos que não precisaria porque após a vacinação, eu dei o meu leite para ele no copo, ele está recebendo alguns anticorpos através do leite. Mas enquanto a vacinação não chegar pra todo mundo, não temos como celebrar”. 

Professora de Yoga

“Eu já voltei a dar algumas aulas pelo zoom na internet, e agora que os número estão caindo, comecei a dar aulas particulares, eu tenho um quintal muito grande na minha casa, muita natureza, estou dando aula de yoga para uma amiga que estava em tratamento de câncer, eu de máscara e ela também, uma longe da outra tomando muito cuidado, até porque ela está com o sistema imunológico baixo. Estamos voltando devagarinho. Se eu conseguir trazer os meus pais pra cá, é capaz de eu ter um pouquinho mais de tempo”. 

Trabalhos no Brasil

“Quando eu tive o Lucca, achava que daria pra ficar indo e voltando o tempo inteiro, mas é muito difícil. Eu vou aceitar convites de trabalhos que forem mais curto, porque não dá pra ficar 12 meses fazendo uma novela no Brasil, com os meus filhos e o meu marido tendo que estar nos EUA por conta do trabalho dele. Não tem como eu dividir a minha família. Não é justo com os meus filhos e nem com o meu marido. Ele é apaixonado pelos filhos, um excelente pai, os meus filhos amam o pai, não querem ficar longe e nem eu quero. O contrário também não tem como. Eu jamais deixaria os meus filhos esse tempo todo longe do pai”, disse a atriz que esteve no Brasil em 2019, para filmar a série “Impuros” da Fox. “Eu faço uma delegada que luta contra o tráfico no Rio de Janeiro”, concluiu. 

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