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Lázaro Ramos, sobre racismo: ‘A gente precisa olhar para isso e superar’

Reprodução/Instagram

No dia 20 de novembro, data em que se comemora o Dia da Consciência Negra, foi exibido, na Globo, o documentário Falas Negras, dirigido por Lázaro Ramos, com a participação de 22 atores. Ao participar do programa Conversa Com Bial, na noite de terça-feira (15), o artista baiano destacou o quão doloroso foi o trabalho, idealizado por Manoela Dias, autora de Amor de Mãe. Falas Negras reuniu textos reais. Entre eles, estava a atriz Tatiana Tibúrcio, que fez as vezes de Mirtes Renata Santana de Souza, mãe do menino Miguel Otávio Santana da Silva, de cinco anos, que morreu em Recife ao cair no fosso de um elevador.

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"Esta história é um dos grandes símbolos do descaso diário que a gente passa, como se fosse algo natural. A gente está tornando isso algo comum na nossa sensibilidade, é muito ruim. É isso que me emociona. Não é só o fato de eu ser filho de uma empregada doméstica, uma empregada doméstica que viveu histórias muito tristes, tanto que no Na Minha Pele (livro que ele lançou) eu falo pouco da minha mãe, eu falo pouco por uma estratégia porque eu queria que as pessoas lessem um livro e saíssem estimuladas”, disse Lázaro.

“E eu soneguei algumas histórias porque eram histórias muito desestimulantes, eu não consegui falar, não consegui escrever. Essa história, junto com o trabalho belíssimo da Tatiana Tibúrcio, que também é preparadora de elenco deste projeto, ela tem um impacto que a gente precisa ter. E assim, pelo Miguel, mas não é por que eu fui filho de empregada doméstica, não. É por que o Miguel é nosso filho também e assim que a gente tem que ver. A gente ainda fala, não me grite assim, não me fale como se eu fosse sua empregada, como se a gente tivesse direito de gritar ou destratar uma empregada", continuou Lázaro.

Lázaro Ramos e Taís Araújo são diagnosticados com Covid-19

O marido de Taís Araújo enfatizou que, por conta do racismo estrutural, ainda há quem prefira não entender esse grito de alerta.

"Isso tudo, Bial, eu sei que tem gente que vai dizer que é mimimi, tem gente que vai falar: ‘lá vem ele de novo’, mas isso é fruto do processo de escravização que a gente viveu neste país. Estes frutos estão aí, é a maneira que a gente olha pro outro. Muitas vezes o nosso olhar para uma pessoa, não é nem como um animal, como uma coisa, como um nada. Esse olhar ainda tá na gente. E eu falo em todos os sentidos", desabafou.

Lázaro chamou à atenção para a questão feminina e enfatizou que negros são maioria em presídios, manicômios e favelas.

"Eu não falo só na questão racial, eu falo na questão da mulher também. Às vezes, eu me pego reproduzindo coisas que estão em mim, fazem parte da minha história. A gente precisa olhar para isso e superar. E a gente vai ter que passar por este momento de incômodo. Desculpa, mas não tem como não se incomodar. A maioria nos presídios, nos manicômios, nas favelas tem a minha pele. E a gente naturaliza isso”.

“A gente paga menos às mulheres, mesmo exercendo a mesma função, como é que gente não fala e não grita sobre isso? Como é que a gente não vai pegar treta na internet? Esse grito está preso há muito tempo. E olha que eu tenho uma vida muito melhor do que um dia sonhei, mas eu olho para o lado e vejo meus colegas, meus amigos, eu vejo desconhecidos, e não consigo perder esse olhar".

 

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Convite recusado

Foi a partir da morte do menino João Pedro, no Rio de Janeiro, e do brutal assassinado de George Floyd, nos Estados Unidos, ambos ocorridos em maio, que a autora Manuela Dias teve a ideia e convidou Lázaro para capitanear o projeto. E ele recusou.

"Eu neguei três vezes. Eu falei que eu não queria fazer porque como artista, como contador de história, eu estou em um momento que eu acho que talvez, por saúde mental também, estou precisando um pouco da ficção para falar das coisas. A realidade pra mim tem sido um pouco dura.”

Lázaro só mudou de ideia, um mês depois, ao ler 46 textos de pessoas negras que lutaram pela causa racial e a liberdade.

Foguinho e Ellen

Ao contrário do que muita gente pensa, Lázaro contou a Pedro Bial que o affair dele com a mulher, Taís Araújo, não começou nos bastidores de Cobras e Lagartos, novela protagonizada pelos dois, em 2006. Eles já se relacionavam e a atriz foi responsável pela escalação do baiano na novela. Lázaro contou que foi a amada que pediu ao autor, João Emanuel Carneiro, que ele estivesse no elenco.

"João, o Lázaro quer fazer o Foguinho”, disse ela, direta e reta.

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