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Manoel Carlos: ‘Estou pendurando as chuteiras’

Divulgação/TV Globo/João Cotta
Aos 83 anos e com muito bom humor, Manoel Carlos gravou o programa Ofício em Cena, do canal por assinatura GloboNews, apresentado por Bianca Ramoneda. Ao longo de 50 minutos o paulista de alma carioca deu um "aulão" diante de um auditório lotado de estudantes, roteiristas e diretores, além de Lilia Cabral. O jornal Extra compilou as principais passagens da gravação e, numa delas, Maneco falou sobre o fato de suas histórias serem muito próximas da realidade.
 
"Fazem um pouco de confusão quando dizem que eu faço dramaturgia realista. Minha preocupação é fazer uma coisa verossímil, gosto que as pessoas se reconheçam nas minhas novelas. Me preocupo que seja um bate-papo, por isso tem muita cena ao redor da mesa, porque é quando as famílias se reúnem".
 
A paixão pelo Leblon, bairro da Zona Sul carioca onde sempre ambienta suas histórias, também esteve em pauta. 
 
"A persistência de fazer novela no Leblon é apenas porque moro lá e conheço bem. Gosto de encontrar as pessoas que eu retrato nas minhas novelas, nas ruas. O amor se parece em todas as línguas, o ódio, a inveja, o ciúme… Isso tudo existe em qualquer lugar".
 
Curiosamente, Maneco revelou ser um profissional indisciplinado.
 
"Não tenho disciplina para escrever. Faço uma sinopse enorme e praticamente não sigo. Meu sonho, que consegui realizar depois de muito tempo, era não ter hora para dormir, acordar, comer… Sinopse tem porque é obrigatório. Eles querem saber o que eu vou e não vou fazer. Mas, na verdade, não tem uma ordem. Se me ocorre uma cena boa eu coloco no capítulo".
 
Há um bom tempo fora do ar, o autor comentou sobre sua pausa criativa. 
 
"Você tem vontade de se atirar da janela (quando nada acontece na novela, a famosa barriga). Todo autor sente isso. Chega um momento em que você diz: 'Para onde eu vou?' Um dos meus filhos, que foi ator e autor (Ricardo, morto em 1988, em decorrência de complicações do vírus HIV) dizia: 'Pai, faça uma pausa criativa'. Quando você olha aquele papel vazio esperando que escreva alguma coisa, fica mais angustiado. O melhor é pôr de lado".
 
Ele ainda detalhou sua maneira de trabalhar
 
"Tem uns truques, mas não existe uma receita. Se tivesse, todo mundo faria e a novela não seria essa coisa tão enigmática com relação à audiência. Sou muito de ir fazendo… Novela é que nem carro, só começa quando você liga o motor. Não penso muito no que vou escrever. Vou construindo meu monstrengo para dar certo, mas não tenho nenhuma rigidez. Eu mudo muito. Faço uma novela muitas vezes baseada em notícia de jornal. Umas coisas saem boas, com frescor do ao vivo, outras ruins. Entrego em cima da hora (os capítulos). Sou um improvisador. Em Mulheres Apaixonadas (2003), estávamos na festa do fim da novela e o último bloco não estava editado. Isso é perigoso. Não aconselho. Mas todo processo criativo é assim"
 
Violência é o único porém em suas tramas.
 
"Não gosto de escrever cena de violência, gosto do clima. A não ser entre duas mulheres, puxando o cabelo, aí é maravilhoso".
 
Característica de suas histórias, o merchandising social foi citado.
 
"Acho importante usar a novela para fazer campanha. Sei que muitos colegas dizem que é um saco fazer 'merchan' social, mas eu sempre gostei e faz sucesso. A leucemia da Carolina Dieckmann (Camila, de Laços de Família) rendeu muito transplante para o Hospital do Câncer. Adoro uma doençazinha que possibilite entrar um médico e falar alguma coisa. Eu ajudo a vender fogão… Por que não vou vender medula óssea?".
 
O autor falou ainda à GloboNews sobre seu próximo trabalho.
 
"Vou entregar uma minissérie, que já estou fazendo há muito tempo. Tive problemas familiares (ele perdeu o terceiro filho, Pedro, em 2014, vítima de um mal súbito), que retardou muito. Vou entregar porque eu ganho pra isso, e fico esperando se vão ou não fazer".
 
Para quem se apegou aos boatos de que Maneco escreveria a continuação da famosa é promissora série Presença de Anita, ele joga um balde de água fria.
 
"Não tem espaço para fazer. Já estou pendurando as chuteiras".

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