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Marjorie Estiano sobre fake news: ‘Não precisa de pretexto, quem trabalha pra isso dá seu jeito’

Divulgação/TV Globo

Desde sua estreia em 2017, Sob Pressão tem rendido elogio de crítica e público à atriz Marjorie Estiano que interpreta na série, a médica Carolina. Em entrevista concedida para OFuxico, ela contou sobre a complexidade de sua personagem, como foi gravar os dois episódios especiais – Plantão Covid – além de sua relação com as redes sociais, já que a atriz procura manter uma vida discreta e longe dos holofotes da mídia. 

Privacidade nas Redes

“Eu uso as redes, por enquanto, mais como um aparelho de divulgação do meu trabalho e também para minimamente, me inteirar e incorporar essa forma de comunicação que tem ocupado cada vez mais o protagonismo entre as outras. Entendo que tem um caminho nessa direção que não tem retorno, é um processo natural de estudo de um universo que se abre, e acredito que traz muitos benefícios também. Nas minhas relações interpessoais, frequento mais o modelo antigo mesmo. Sento, converso, vejo, ouço ou ligo. Nas redes, a razão tempo investido e sucesso na comunicação, a meu ver, não compensa. E não está de acordo com a minha personalidade, minhas características”, disse. 

“Independente disso, acho que postar pouco não blinda ninguém de fake news. Já estive em algumas sem nem sair de casa. Fake news raiz mesmo, não precisa de pretexto, quem trabalha pra isso dá seu jeito. Quanto à exposição da minha intimidade, abro muito pouco e, mesmo na minha interação vintage, tenho alguns poucos amigos com quem divido alguns aspectos da minha vida. Entretanto, estou esperando para ver se me adapto naturalmente ou se vai chegar o momento em que será obrigatório estabelecer uma relação mais íntima com as redes, mas sempre me respeitando. Por enquanto, eu gosto de manter a relação assim. Eu usufruindo delas mais do que elas de mim”, pontuou a atriz. 

Dra. Carolina

Em 16 anos de profissão, Marjorie acredita que a maioria de suas personagens são reais, tirando uma que engravidava de um lobisomem – As Boas Maneiras – e outras que pertencem ao universo fantástico.

“A Carolina ocupa o espaço da realidade mais crua, mais popular. É uma mulher admirável. Sou uma adoradora de tudo que ela significa, tudo que traz em força e fragilidade. É muito madura e sensível. Acho que a humanidade desse personagem está escancarada e isso é magnético. A nossa rotina, esse ritmo acelerado em que vivemos dentro da roda, cega. Cumprir tarefas o tempo todo. A gente acaba esquecendo, deixando de lado o elemento mais essencial de nós mesmo, e o que mais nos seduz, nos reconecta, a humanidade. E a Carolina é repleta dele. É lindo ela não ser idealizada, característica do brilhantismo do roteiro, ela também já se perdeu nessa rotina, mas se percebeu e reconheceu que precisava de um tempo para se reconectar”, refletiu a atriz sobre a personagem.

Marjorie Estiano tem recebido elogios da crítica pelo trabalho em Sob Pressão

Processo criativo 

Com uma carreira extensa, Marjorie transita muito bem entre os gêneros da dramaturgia. “Existe algo comum no estudo de todos eles e algo específico para cada um, suas particularidades e função dramatúrgica. É um processo de investigação que se divide em várias partes. Eu trabalho sempre com a minha professora, Helena Varvaki que me conduz há mais de 10 anos em formação continuada. Existe algumas técnicas de estudo do texto para guiar as escolhas, tem a construção física e de memórias dos personagens, entre outras. A ficção é uma história editada da vida dos personagens, e para uma vivência mais profunda preciso construir essas memórias que fazem parte da vida dele, que formaram a personalidade, o caráter dele, e que não estão no roteiro”, explicou a atriz.

“Falar de construção de subjetividade não é muito simples, não se resume ao que a minha explicação oferece. E é talvez a parte que eu mais ame. O processo de construção. Amo a pesquisa, a experimentação. Entrar em um universo novo me traz tantos benefícios. Tantos assuntos que eu venho a estudar em função de um personagem. É um privilégio. São muitas perspectivas diferentes, o que instiga e enriquece a minha. A expectativa atrapalha bastante, principalmente no exercício do trabalho, no set. Ela me tira do momento presente, do foco, me tensiona e isso é uma cilada. Mas existem técnicas para tentar amenizar o espaço que ela pode ocupar. Cada dia é um dia. Nosso material de trabalho é a emoção essencialmente, e nesse sentido está suscetível a várias interferências. Existem muitas ferramentas para lidar com essas intempéries, e tem horas que nenhuma funciona, mas vamos em frente assim mesmo”, concluiu.  

Sob Pressão

Com a missão de homenagear os profissionais da saúde, o Conselho Regional de Enfermagem de SP (Coren-SP) se manifestou criticando a nova temporada da série, alegando que houve desmerecimento aos profissionais, sobre este assunto, Marjorie se manifestou. 

“A enfermagem tem toda razão em querer reconhecimento e valorização, é justo e legítimo, principalmente considerando que a maior parte é de mulheres, pretas e pardas e de origem pobre. A formação do médico sempre foi cara e a injustiça já começa no processo seletivo de exclusão por questões estruturais da sociedade. O especial se propõe a revelar um pouquinho do que os profissionais da saúde estão enfrentando. Do que abdicam, o esforço, o valor que dão ao bem-estar do paciente, do cuidado com ele. Da consciência que têm sobre a importância do momento que o paciente está vivendo, junto com toda a família. A responsabilidade e a entrega do profissional nesse contexto”, declarou.

“A dramaturgia tem algumas limitações, características da ficção, jamais conseguiria ser um retrato fiel, até pela multidisciplinaridade. A equipe é muito rica e o protagonismo do “Sob Pressão” é, sobretudo, um recorte sobre o sistema de saúde. A trama é guiada por uma categoria, nesse caso, os médicos, e os episódios são 70% sobre os pacientes. O segundo episódio do especial, mostrou a relação da enfermeira Marisa, interpretada pela Roberta Rodrigues, com a esposa de um paciente. Mas muitos outros profissionais não se viram. Os anestesistas, por exemplo, os fisioterapeutas”, admitiu. 

Na segunda temporada tivemos na narrativa um ortopedista que não se interessava tanto pelos pacientes e que se envolveu em um esquema de corrupção. Teve ortopedista ofendido. Tivemos um anestesista que era piadista, enganava a namorada com outra. Anestesistas se ofenderam. A ficção revela um ponto de vista, que vai ser o de alguém, e os heróis e bandidos muitas vezes se misturam, como também acontece na vida real. O Dr. Evandro cirurgião torácico, era viciado em drogas. A Dra. Carolina cirurgiã vascular, se automutilava. Somos muitos e complexos. Todos os profissionais são muito valiosos e quando o especial se propõe a falar da importância deles, sem sombra de dúvida, os enfermeiros estão no grupo. A perspectiva que o “Sob Pressão” oferece não anula e nem reduz a importância de todos os profissionais de saúde que constituem o SUS, estão todos dentro de uma mesma realidade caótica interpretada pela ficção”, finalizou sobre o assunto. 

Marjorie Estiano em cena da série Sob Pressão, da TV Globo

Projetos

Apesar do retorno repentino às gravações de Sob Pressão, por causa da pandemia a atriz precisou interromper as filmagens da série Fim, uma adaptação do livro da atriz e escritora Fernanda Torres. “Filmamos apenas umas semanas e tivemos que parar, mas pretendemos retomar. Ainda temos a 4ª e 5ªa temporada do Sob Pressão para ser feita. Lançamos dia 21 de Outubro no Canal Brasil e no Globoplay a série Noturnos, do Marco Dutra e Caetano Gotardo, uma série de terror inspirada em contos do Vinícius de Moraes, mas tirando essa data marcada e concreta do Noturnos, todos os outros projetos ainda estão avaliando uma adaptação para conseguir incorporar a realidade do momento ainda com a presença e ameaça da Covid. Então, a curto prazo meus planos são me manter viva e saudável e a médio e longo prazo, ainda um pouco incógnita”, desabafou.  

Isolamento Social

Preocupada em manter o isolamento social, Marjorie tem consciência que é uma pessoa privilegiada, mas nem por isso ela deixa de cumprir as regras de distanciamento. 

“Eu não peguei a doença e estou fazendo tudo que posso para não pegar. Realmente tenho muito medo do que pode acontecer. Não tenho nenhuma doença pré-existente, mas também não quero contar com isso e nem com a sorte. Nenhum familiar contraiu, e tenho familiares e amigos no grupo de risco. Os amigos que pegaram, graças a Deus, tiveram sintomas leves. Comparando com a realidade da maioria dos brasileiros, estou passando quase ilesa. Eu vivo o isolamento com o medo projetado pela imaginação, tanto sobre o vírus quanto sobre as perdas”, relatou.  

“A quarentena tem consequências muito distintas para cada realidade, sem dúvida estamos no mesmo contexto, mas algumas especificidades alteram radicalmente o desafio. Eu tive que lidar com todo o desamparo emocional, muito medo, tristeza, incerteza, abandono, tudo que chega junto com essa ameaça de morte. Vivendo e assistindo a todo esse sofrimento em cadeia disparado pelo vírus. Com o privilégio de ter suporte para enfrentar o isolamento apenas por esse viés e auxiliar familiares, amigos e grupos mais vulneráveis da sociedade”, respondeu.  

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