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Zezé Motta: ‘Sinto falta de sexo, sou uma mulher saudável’

Ag.News
No fim da década de 60, Zezé Motta aos 23 anos, se apresentava nos Estados Unidos, com o espetáculo Arena conta Zumbi, surgiu com falso cabelo liso, uma peruca. O adereço foi motivo de críticas e ela decidiu, tão logo chegou ao quarto do hotel, libertar-se do ornamento. Tomou banho, deixando de lado também o produto usado para alisar a madeixa crespa, e de lá saiu modificada, num desses momentos de autoafirmação em que tudo ao redor desce à insignificância.
 
"Era uma tentativa de embranquecimento que começou na minha adolescência. Quando garota, queria operar o nariz, investiguei se havia cirurgia para diminuir o bumbum. Eu morava num edifício de classe média baixa no Leblon, e a maioria das minhas amiguinhas era branca, e elas me falavam: 'Ah, gosto tanto de você, mas seu cabelo é duro, né?' (risos). Eu me achava feia. Me disseram isso e eu acreditei".
 
No ar como a Tia Joaquina de Escrava Mãe, novela exibida na Record, Zezé ainda hoje é reconhecida como Xica da Silva, cujo filme homônimo, responsável por torná-la famosa e fazê-la conhecer o mundo, completa quatro décadas este ano. Mais que personagem célebre e símbolo sexual, tornou-se involuntariamente matéria-prima dos desejos alheios.
 
"Tive que fazer análise, porque Xica ficou no imaginário masculino de um jeito que todo mundo cismou de querer transar comigo. Eu escutava: 'Ah, fui no banheiro em sua homenagem'. As pessoas tinham uma expectativa de que eu ia dar um show na cama, eu me sentia no dever de ser maravilhosa e esquecia o meu próprio prazer. Teve um cara que me disse lá na hora que o sonho dele era transar com Xica. Depois de um tempinho de tumulto, eu me casei, mas me certifiquei de que ele estava se casando comigo e não com ela", recorda a atriz, em entrevista ao jornal Extra.
 
Zezé, que será tema do enredo da escola de samba carioca Acadêmicos do Sossego no carnaval 2017, lembrou ainda que viveu algumas situações constrangedoras por conta da escrava alforriada. Ela, na época, passou a usar o cabelo bem curto, parecendo andrógina. Certo dia, ao pegar um táxi em Nova Iorque, recebeu uma resposta ríspida do motorista, que achou que ela era um homem gay. Com um inglês parco, balbuciou algo como "I'm not" (eu não sou). No Brasil, com a imagem de Xica mergulhada na libido, sofreu assédio de um taxista.
 
"Ele começou a me olhar no retrovisor e disse: 'É você mesmo?'. Achava que era brincadeira e comecei a rir, e meu sorriso me entrega. Quando vi, o motorista já estava enfiando a mão por debaixo da minha minissaia e furando todos os sinais. Pensei: 'Tô ferrada, ele vai me sequestrar'. Cogitei sair do táxi andando… Mas ele parou num cruzamento na Avenida Copacabana, um guarda estava perto, então, aproveitei e me mandei. E não paguei, ele já tinha passado a mão em mim".
 
Quebrar tabus, desde sempre, foi uma constante para a atriz. Em 1984, ela foi alvo dos relacionamentos inter-raciais, por conta de sua personagem na novela Corpo a Corpo. Zezé fazia par romântico de Marcos Paulo e sofreu inúmeros ataques racistas. Embora chocada com o racismo choca, ela prefere não ser carcereira da prisão dos outros. 
 
"Vivi coisas muito bonitas. Lembro quando fui apresentada à família do Marcos Palma (seu ex marido, um arquiteto branco), teve um jantar e fiquei emocionada com a avó dele. O pai dela teve escravos e, quando morreu, a primeira coisa que ela fez foi abrir a senzala, sendo deserdada por isso. Nesse dia, ela me disse que valeu a pena ter vivido tanto para ter, enfim, uma negra na família. A cena me comoveu".
 
O Extra destaca que Zezé foi casada cinco vezes e teve cinco filhas. Nenhuma delas nasceu de seu ventre, mas foram acolhidas pelo amor essencial (incluindo duas sobrinhas, criadas por ela) e, hoje, são mulheres feitas, entre 35 e 47 anos. Com útero infantil, a atriz sofreu três abortos, mas as possíveis brechas de carência foram suplantadas pelas meninas, ela garante. 
 
"Não quero me casar de novo só para não ter que me separar. É complicado. No Dia dos Namorados, amarrei um bodinho, tomando vinho e pensando: será que vou envelhecer sozinha? Tenho medo".
 
Apesar da aparente segurança, ela admitiu na entrevista que sente falta da intimidade entre dois corpos.
 
"Quando minha mãe se casou com quase 70 anos (hoje, ela tem 92), pensei com meus botões: 'Ah, ela está casando para ter uma companhia para jantar, para ir ao cinema e ao teatro'. Depois, percebi que não era bem por aí. Sinto falta de sexo, sou uma mulher saudável. Agora, não vou transar por transar. Quero um companheiro. Mas faço as minhas caminhadas, uma vez por semana tem massagem relaxante, tomo meu vinho. Recebo cantada, mas só de rapazes muito mais jovens, e não rola mais para mim. Aqui (a velhice) não é o paraíso".

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