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Bruna Surfistinha revela mensagem deixada por haters: ‘Chega de vadias no Brasil’

Bruna Surfistinha de top prata
Reprodução/Instagram

Raquel Pacheco, conhecida como Bruna Surfistinha, não planejava engravidar neste momento, e quando soube da novidade de que seria mãe de gêmeas, teve uma crise de risos. Nesta entrevista exclusiva ao OFuxico, a ex-garota de programa luta pelo direito de poder educar suas filhas. “Elas terão livre arbítrio para serem felizes da maneira que quiserem, inclusive irão crescer e conviver desde pequena com o meu mundo que é justamente a maioria dos meus amigos do movimento LGBTQI+. Elas vão crescer neste ambiente, entendendo que cada um pode ser quem quiser ser”.

Ódio nas redes sociais 

“Fui bombardeada por haters, infelizmente. Não consigo entender como, mas as pessoas sentem prazer em atacar, mas esses ataques aconteceram em perfis de notícias nas redes sociais, em comentários de matérias que estão sendo publicadas. Nas minhas redes sociais foram poucas pessoas me atacando. Eu recebi muito mais mensagens de amor, de carinho, de pessoas que sempre me acompanharam e souberam do meu sonho de ser mãe e estão felizes comigo. Nos primeiros dias que eu anunciei a gravidez cheguei a acompanhar algumas mensagens, mas resolvi parar porque não estava me fazendo bem”, contou.

“Não pretendo tomar nenhuma ação jurídica, não gostaria de ter essa dor de cabeça, ir atrás dessas pessoas, descobrir quem elas são, até porque há muitos perfis falsos, né? É muito trabalho, muito desgastante, não estou disposta, a não ser que seja algo muito grave, uma ameaça contra a minha vida, por enquanto, não soube de nada nesse sentido. As últimas matérias que tem saído, parei de ler os comentários, justamente pra não alimentar essa energia ruim. Não quero sentir e nem transmitir para as minhas filhas, estou num nível avançado da gravidez, elas sentem os meus sentimentos”.

“O ápice da maldade é quando falam delas, quando chega nesse ponto, é muito mais do que falar de mim. Estou tranquila, podem falar do meu passado, isso não me afeta, o que me afeta é quando falam delas, como aconteceu quando eu li um dos comentários”, disse.

Um homem me mandou um direct e disse: ‘chega de vadias no Brasil’, em resposta a uma das fotos que eu coloquei no meu perfil falando da minha gestação de gêmeas, como se elas fossem vadias.

“É muita maldade, ainda mais pra duas crianças que nem nasceram, não tem como se defender, não tem culpa nenhuma do que eu sou, do que eu fui”, disse.

“Eu acredito muito na espiritualidade de que fui escolhida por esses seres, elas sabem quem eu sou, e me escolheram mesmo assim. Falar do meu passado e colocar em dúvida se eu tenho capacidade de ser mãe não mexe comigo, prefiro que me ataquem do que jogar essa maldade em cima delas, ou fazer piadinhas de mal gosto. O que me entristece é ver ataques de mulheres, porque o homem a gente pode até pensar: ‘macho escroto, pensamento arcaico’, mas quando é mulher não consigo entender, acaba sendo mais pesado”, desabafou.

Comunidade LGBTQI+ 

“Hoje, apesar das minhas filhas não terem nascido ainda, me assusta por saber que toda mãe se preocupa. Eu não vou conseguir protegê-las o tempo todo. Elas terão livre arbítrio para serem felizes da maneira que quiserem, inclusive irão crescer e conviver desde pequena com o meu mundo, que é justamente a maioria dos meus amigos do movimento LGBTQI+. Elas vão crescer neste ambiente, entendendo que cada um pode ser quem quiser ser. A pedofilia me procura, me apavora, é uma luta importante do movimento, um dia precisa ter fim, está longe, mas precisa chegar, até lá é unir forças, levantar bandeira, conscientizar as mulheres que sofrem ameaças dos parceiros que precisam denunciar, não podem ter medo ou vergonha, tem que denunciar antes que o pior aconteça”, alertou.

Autoconhecimento na pandemia 

“Desde quando começou a pandemia entrei num processo interno profundo, estava fazendo terapia, me aprofundei no meu autoconhecimento, isso aumentou a minha vontade de expor situações que até então eu não tinha coragem, como é o caso de abuso que sofri na minha infância com o meu pai adotivo, falei sobre esse assunto pela primeira vez. No começo de dezembro foi um momento que eu estava me sentindo muito forte, isso me ajudou a ter coragem pra contar, até mesmo pra minha terapeuta eu demorei pra contar, mas ela sempre soube que eu não conseguia colocar pra fora, eu bloqueava, até o dia que eu consegui falar. Nós trabalhamos muito essa dor dentro de mim”.

Machismo e preconceito

“Eu nunca tive problemas com sociedade machista e preconceituosa, tanto é que eu assumi que era garota de programa, quando ainda fazia programa, durante um ano eu ainda dava entrevistas. Pra mim isso nunca foi um problema, encarar a sociedade hipócrita e machista, mas tive dificuldades de abrir uma dor para o mundo. Hoje, quando falo sobre esse assunto, não choro mais, deixou de ser uma dor, tem um novo significado e isso me trouxe muita força também”, disse Bruna confiante.

“É triste a realidade da nossa sociedade que é extremamente machista, preconceituosa, julgadora, que não respeita o livre arbítrio, por isso existe homofobia, transfobia, feminicídio, e têm pessoas dizendo que é mimimi, militância, os números de mortes estão aí pra todo mundo ver que não é mimimi, é uma luta extremamente importante para diminuir até acabar com a quantidade de mortes que acontece diariamente em relação a transexuais, travesti, homossexuais. Todos os dias uma mulher perde a vida por conta do machismo”.

Gêmeas

“Fui ao médico porque estava sentindo muitas dores na barriga e nas costas, quando ele disse que eu estava grávida de gêmeos, minha única reação foi rir de nervoso, não me lembro de ter tido uma crise assim tão forte. Não conseguia controlar. Eu só consegui me acalmar quando ouvi o batimento cardíaco. Uma mistura de felicidade, mas ao mesmo tempo de f*** e agora? Assusta muito pra quem não está esperando ter gêmeos. Passou muita coisa na minha cabeça. Será que vou conseguir? Como vai ser?”, disse Bruna que está morando no Rio de Janeiro e lamentou não poder fazer um chá de bebê com suas amigas, que moram em São Paulo.

Empresária 

‘Bruna Surfistinha’, o filme, acabou de completar dez anos, e a ex-garota de programa sabe a história que construiu. “O que a vida quer da gente é coragem”, relembrou ela, citando uma frase de Guimarães Rosa. “Quero que as minhas filhas tenham coragem para enfrentar a vida. Eu tive que ter coragem pra aceitar os meus erros, assumi-los e consertá-los para enfrentar essa sociedade difícil como a nossa. Resolvi dar a cara a tapa. Quando percebo que alguém está sem coragem pra seguir um sonho, faço o possível para ajudá-la”, contou Bruna que faria a continuação do filme, mas está investindo num documentário sobre sua vida pós prostituição; a gravidez também fará parte; e a ideia é lançar no final deste ano, mas além deste projeto, ela irá lançar também uma autobiografia, de última hora ela decidiu lançar suas experiências com a maternidade. “O livro e o documentário serão publicados de maneira independente”, disse. Empresária, Bruna é também dona de uma loja de produtos eróticos e contou que nesta pandemia o comércio virtual cresceu consideravelmente, inclusive com vendas recordes para vibradores.