Clara Moneke: ‘Protagonismo negro tem que deixar de ser novidade’

Por - 11/08/23 às 14:33

Clara MonekeFoto: Pedro Napolinário/Revista Glamour/Divulgação

Nesta sexta-feira, 11 de agosto, vai ao ar o último capítulo da novela “Vai na Fé”. E uma das atrizes que se sobressaiu na trama da faixa das 19 horas é Clara Moneke.

Ela conquistou em cheio o coração do público com a personagem Kate, toda descolada e amiga pra toda hora. Agora, a atriz estrela a capa digital e da entrevista da revista Glamour Brasil neste mês de agosto.

Esta é a primeira vez que ela posa para uma capa de revista feminina. As fotos foram realizadas no famoso Copacabana Palace, que está comemorando 100 anos.

Clara Moneke é capa da edição digital da revista Glamour
Foto: Pedro Napolinário/Revista Glamour/Divulgação

Na entrevista, Clara Moneke contou detalhes sobre sua trajetória, importância do protagonismo negro na TV, quais or próximos projetos, entre outros assuntos.

“Não era sobre dinheiro, era sobre a consciência. Consciência de que o jovem negro no Brasil é muito desacreditado, então, dentro de casa é o primeiro lugar que a gente tem que reafirmar nossa força. Lá, isso sempre foi posto de uma forma muito natural, a gente não tinha outra opção senão vencer”, disse.

Moneke conta o significado de ter uma tatuagem do continente africano em seu braço.

“Essa tatuagem traduz tudo. Quando a gente não sabe de onde a gente veio, não sabemos onde queremos chegar. Na minha cabeça, tudo é mais claro quando consigo olhar pra trás e enxergar quem veio antes. Quando a gente consegue enxergar a nobreza, a realeza dos nossos antepassados, conseguimos nos colocar nesse lugar, que por muito tempo foi privado de nós. Fomos colocados como descendentes de escravos ou escravizados, e não é assim. Eu sempre soube da minha cultura e da ligação com a África, olhar para trás e ter essa referência é uma certeza de onde eu posso chegar.”

Sobre o cenário da novela “Vai na Fé”, que trouxe o protagonismo negro, Moneke disse: “Enxergo como um atraso. Estamos em 2023, deveríamos ter tido isso há muito tempo, porque temos profissionais capacitados. Existem possibilidades de fazer acontecer, mas sem oportunidade. Essa diversidade é que dá a mistura, dá a liga, é difícil fazer uma receita com um só ingrediente. ‘Vai na Fé’ serviu como um marco na dramaturgia, na teledramaturgia brasileira, mas não quero que a gente fique por aqui, que sejamos um exemplo por muito tempo. Não pode ser uma novidade.”

Clara Moneke na capa da edição digital da revista Glamour de agosto
Foto: Pedro Napolinário/Revista Glamour/Divulgação

VIDA E ARTE

Clara Moneke falou sobre o que a personagem Kate trouxe para sua vida: “Muita coisa. O que mais me alegra é poder dar ao mundo o que eu não tive. A melhor coisa é poder servir de referência para outras meninas, para essa juventude. Com o passar da novela, fui vendo as menininhas trançando o cabelo como o dela, se maquiando… Pude fazer esse serviço para a sociedade que vai muito além do entretenimento. Quando você atinge a vida das pessoas dessa forma, acontece uma mudança. Fala-se muito sobre quando uma mulher preta se movimenta, toda a sociedade se movimenta, e ver que isso está acontecendo é uma das coisas mais legais que a Kate me proporcionou.”

A atriz, simpática e com um sorriso cativante, contou o que difere a personagem da “pessoa física”:

“A Kate é sádica, ela gosta de bagunça, confusão, o circo pegando fogo, e eu sou zero essa pessoa. A não ser que seja uma situação de racismo, vou para casa sem razão só pela minha paz. Não sei ver as pessoas sofrerem, não gosto de briga, por mais que tenham me feito mal. Se eu vejo briga na rua, eu começo a chorar, passo mal mesmo.”

---


×