Diversidade cultural e inserção social dos indígenas no especial ‘Falas da Terra’

Por - 19/04/21

Igor Tripolli - TV Globo

Não apenas caciques e pajés. As aldeias têm médicos, biólogos, youtubers e artistas. São apenas algumas das peculiaridades dos povos indígenas que serão mostradas no especial "Falas da Terra", que vai ao ar na noite desta segunda-feira (19), na Globo. Serão 21 indígenas de diferentes regiões do Brasil olhando para câmera e contando a própria história, além de narrarem a história do Brasil.

“O massacre dos povos indígenas não é uma história do passado, uma história de 1500. É uma história de hoje, uma história lamentável, o sangue que continua sendo derramado não é contado”, conta a advogada Fernanda.

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Ela foi enviada pra faculdade de Direito porque a geração dos pais e dos avós precisava de advogados e representa os povos indígenas em vários órgãos das nações unidas.

Uma das vozes silenciadas foi a do pai da Valdelice Guarani Kaiowá.

“Em 2001, quando eu já estava com 18 anos, formos arrancados de lá por meio de uma liminar judicial e debaixo de muita bala. Todas as mulheres crianças foram colocadas dentro de uma casa de sapé, uma casa sagrada, e tentaram atear fogo. O meu pai, o cacique Marcos Veron, se ajoelhou para os pistoleiros e os policiais, e falou não façam isso, a gente se rende. Então fomos jogados pra beira da estrada”, diz

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Eles passaram dois anos na beira da estrada. Quando voltaram, foram atacados mais uma vez.

“Falas da Terra” também vai mostrar indígenas que expressam sua luta pela arte, como Djuena Tikuna, cantora do Amazonas que batalha pela preservação da cultura e da língua indígena.

“Tenho uma carreira de 15 anos divulgando a cultura, levantando comigo outros artistas indígenas que por muito tempo foram apagados”, disse.

“O sentimento que compartilho com minha música é de respeito. Não tem como esconder a realidade do sofrimento do indígena, e a música ajuda a mostrar", falou o rapper indígena Kunumi MC.

O ambientalista e escritor mineiro Ailton Krenak é outro destaque do programa. Ele frisa a escola como protagonista na conscientização sobre a cultura indígena e diz que isso, inclusive, está previsto na lei.

“Nós temos a Lei 11.645, que orienta ações educativas de história e cultura indígena em nossas escolas, uma abertura recente que deve ser ocupada por novas abordagens da nossa presença na vida brasileira”, disse ele. 

Krenak pontua que o dia 19 de abril não foi instituído para celebração, mas para lembrar “o dever dos Estados nacionais, em convocar a mobilização e respeito aos direitos dos povos indígenas”.

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Por trás das câmeras

Além dos indígenas que contaram suas histórias em frente às câmeras, havia muitos outros por trás delas, como Ziel Karapató, artista e ativista, um dos quatro realizadores indígenas que ajudaram a colocar o especial de pé.

“Foi um desafio, ao mesmo tempo um presente pela oportunidade que nós tivemos de construir algo que é um marco, não deixa de ser um marco, na história da TV aberta brasileira. Algo que fala sobre os povos indígenas, os povos originários, construído pelos povos indígenas”, disse.

Ailton Krenak também atuou como consultor do “Falas da Terra” e participou da escolha dos personagens, assim como a cineasta Graciela Guarani; a jornalista e documentarista Olinda Tupinambá; e o cineasta e realizador Alberto Alvarez.

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Ato de resistência

Escritor e vencedor do Prêmio Jabuti e do Prêmio de Literatura pela Unesco, Daniel Munduruku, luta há anos luta pela divulgação da cultura indígena e defende que o Dia do Índio seja um dia de consciência indígena, e não uma data de celebração.

“Para que novos significados façam parte de nosso repertório, é necessário criarmos consciência do que os povos indígenas são de verdade. Não celebrar o dia 19 é, portanto, um ato de resistência contra a barbárie que nossos povos vivem”, explicou. 

“É importante dar visibilidade à nossa cultura, aos nossos direitos. Somos protagonistas da nossa história", afirmou o ativista indígena Maial Kayapó.

Fêtxawewe Tapuya Guajajara é estudante de Ciências Sociais na UNB (Universidade de Brasília)

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