Ex-Menudo Draco Rosa: ‘O Brasil me acolheu’

Por - 05/07/19

Divulgação/Steven Lyon

Se você tem mais de 40 anos, é provavelmente impossível que não tenha vivido, mesmo que indiretamente, a Menudomania, o maior fenômeno de boy band já visto por aqui. Foi do grupo Menudo que saíram talentos como Ricky Martin. Mas para o cantor de Livin' la Vida Loca estourar, um outro ex-Menudo teve suma importância para que isso acontecesse. Draco Rosa – que por aqui ficou conhecido como Robby Rosa, é três maiores sucessos mundiais de Ricky: Maria, Livin' La Vid Loca e La Copa de La Vida. Compôs outras para o ex-colega de boy band, e não apenas para ele. Julio Iglesias, Ednita Nazario, e muitos outros, ao longo de 35 anos de uma ascendente carreira.

Com cinco Grammys, o nome figurando no Hall da Fama dos Compositores Latinos e tendo um de seus discos, "Vagabundo", ocupando a sétima posição entre os 50 melhores de rock latino, Draco Rosa, aos 50 anos, lança um novo trabalho, Monte Sagrado. A obra, composta por 11 faixas, marca um recomeço.

Draco – que foi submetido a dois transplantes de medula óssea, após descobrir um linfoma em 2011 e um câncer no fígado, em 2013, num longo tratamento que durou cinco anos – passa por mudanças na vida pessoal, em meio a um divórcio após 28 anos de casamento.

Além disso, trocou Los Angeles, na Califórnia, por sua fazenda em Utuado, em Porto Rico, onde cultiva café e mantém um estúdio de gravações. Para ele, o momento é de saber lidar com razão e emoção, intuição e intelecto.

Esta semana ele esteve em São Paulo por dois dias, numa passagem relâmpago, após 15 anos sem vir ao Brasil. Mas foi tempo suficiente para rever amigos, fãs (como essa que vos escreve), gravar programas de TV e até visitar o Estádio do Morumbi, local onde, em março de 1985, o grupo Menudo reuniu mais de 100 mil pessoas, batendo recorde até os dias atuais.

Confira mais detalhes na entrevista de OFuxico, a seguir:

OFuxico: Esse seu novo disco é um recomeço. Mas o anterior de inéditas, lançado em  2009, teve um quê de repaginação , tanto que foi intitulado Vida. Qual a diferença entre eles e a que se refere, especificamente, esse recomeço?

Draco Rosa: Vida nasceu um pouco magicamente, porque não foi minha ideia, e sim do empresário à época, Angelo Medina. Esse disco existe porque a morte batia à minha porta. Amigos se prontificaram a estar comigo, dando carinho e música, mas era algo como 'vamos, esse cara está morrendo'. Foi um disco que nasceu numa circunstância específica. Era tudo muito aleatório, um novelão. E naquele momento eu pensei que seria o último disco, e não foi assim! Quando fui à Sony em Miami apresentar e havia canções mais íntimas, muito bonitas, que acabei deixando para um outro disco. Aconteceu algo, que foi como uma aprovação. Fui embora para minha fazenda e comecei a gravar, tocar, experimentar e de repente se formou outro disco. Tudo era muito melancólico, muito novelão. A energia foi melhorando, o sorriso voltando, novos tempos, veio a celebração de Vida, que acabou transformado completamente. Fiz alguns shows em dois festivais importantes e ali nasceram duas novas músicas, 2Nite 2Nite e 333, que estão nesse novo disco, Monte Sagrado. Aquilo me impulsionou. A faixa-título, Monte Sagrado, e a que encerra o disco, En Los Dias Más Tristes, foram compostas depois que o furacão Maria passou por Porto Rico. Por conta disso, tive que finalizar o disco nos Estados Unidos.

OF: Então você fez um disco de acordo com a sua concepção, sem encomenda determinada por um ou outro…

DR: Não quero mais colecionar moedas. Não quero perder a essência. Música é espontaneidade. Esse disco aconteceu naturalmente. Pela intuição, algo que hoje respeito mais. Aprendi recentemente que a intuição é o que nos liberta. E está sempre correta. Claro que a razão pode te salvar de mil situações. Mas temos tantos intelectuais dominando vários setores e nem sempre é o que queremos. Intuição é algo próximo ao amor. Aprendi muitas lições. Em Monte Sagrado, peguei minha razão e tranquei.  Foi a razão, o intelecto, que me levaram a fazer Monte Sagrado e muitas outras coisas, até meu divórcio. A intuição diz que a única maneira de fazer, é tentar. Eu me mudei definitivamente para Porto Rico, estou cercado pela natureza, voltei à missa origem, prestei atenção a quem eu sou, a minha essência. E por isso estou aqui no Brasil. Ouvi minha intuição, abriu uma porta eu estava fechada por anos. Monte Sagrado me fez olhar para trás e enxergar com clareza e gratidão.

OF: Curiosamente, o Brasil foi destino em momentos de recomeço: você veio pra cá no início dos anos 90, iniciou aqui sua carreira solo logo que saiu do Menudo, retornou em 2004, já com novo estilo e agora está de volta. Como se sente diante uma legião de fãs ainda daquela época, que acompanham sua trajetória? Quais são seus planos aqui?

DR: Fiz amigos no Brasil, sei que tenho muitas fãs, sinto um carinho enorme, sempre foi assim. Mas estou aqui sem expectativas, isso é perda de tempo. Quero acumular experiências. Vivo um momento interessante e aqui no Brasil vivi um momento-chave. Antes de entrar no grupo Menudo, trabalhava nos bastidores, gravando jingles para o grupo. Fiquei por um ano trabalhando sem aparecer. No teste, Roy entrou e eu não, tinha que ser assim, diziam que eu era muito alto. Mas havia carinho da empresa por mim, me ofereciam sempre trabalho. Um dia me disseram que havia uma oportunidade e me convidaram a fazer parte do grupo, porque iam gravar em inglês (ele é nascido em Long Island, nos Estados Unidos). Em quanto os outros meninos iam pra Disney nos dias livres, eu ficava com os compositores, me fascinava. Saí do grupo, fui pra California e havia uma proibição de que eu gravasse por cinco años. Vim pro Brasil, entrei em contato com Miguel Plopschi (produtor da RCA discos), no Rio de Janeiro, que me apresentou ao executivo da gravadora. Tive a oportunidade de gravar duas musicas, mas aprendi muito com Michael Sullivan, Paulo Massadas, Carlos Colla, aprendi que a música é para sentir e não entender. Eles faziam tudo naturalmente. Muitos anos depois, trabalhando com Ricky, tentei expor isso, mas as pessoas trabalhavam com o intelecto. Ninguém trabalhava com a intuição. Minha inspiração, meus ensinamentos, foram com esses profissionais. Em 1996 lancei um álbum, Vagabundo, que está nas primeiras posições na lista dos 50 mais importantes da história do rock latino. Meu nome está no Hall da Fama dos Compositores Latinos, tenho uma das dez melhores canções de rock latino da história, ganhei cinco Grammys, mas tudo começou observando esses produtores. Eu era um menino feliz, mas melancólico.

OF: Como assim?

DR: Não estou dizendo que me incomodo por ter sido um integrante do Menudo. Não! Saí do grupo porque eu queria mais, queria compor, apresentar minhas músicas e não podia. Eu sempre gostei de criar, mas era desencorajado. Então fui embora. Sou muito grato e hoje, muito mais, reconheço tudo o que vivi. Passei por muita coisa, fases complicadas…  Fui para a Rehab antes de lançar o disco Frio (1994), o meu primeiro na carreira solo em espanhol (antes ele havia lançado dois alguns em português, por aqui). Passei um tempo no Damien Fremont Hospital, na Califórnia. E estou aqui, na fila, com a mesma história de muita gente. Graças a Deus segui adiante. Trabalho muito como compositor, além do Ricky Martin tenho músicas que foram cantadas por Julio Iglesias, Ednita Nazario, e outros nomes da música latina. E não descarto a ideia de voltar a cantar em português. Estar aqui esses dias me deu essa vontade. Vivi uma fase muito bonita da minha vida aqui no Brasil. Quero voltar em breve. Desta vez estive só em São Paulo, na próxima irei ao Rio de Janeiro e pretendo fazer música por aqui.

 

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