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Fernanda Nobre sobre relacionamento aberto: ‘É uma questão política’

Fernanda Nobre semblante sério
Divulgação/Vinicius Mochizuki

Ela faz parte de uma geração de mulheres que expressa sua liberdade sexual, e desconstrói narrativas impostas pela sociedade machista, preconceituosa e careta. Fernanda Nobre é uma mulher em construção que tem elevado o debate sobre os direitos feministas. Nesta entrevista exclusiva ao OFuxico, a atriz contou como foi buscar conhecimento para entender as relações humanas, especialmente homoafetivas.

Luta contra o machismo

Quando o assunto é sexualidade da mulher, o machismo ainda é muito presente na sociedade, mas Fernanda se posiciona contra os tabus acerca deste assunto, ela falou sobre vulgaridade, e também analisou se as mulheres ganharam ou perderam vozes diante da intolerância patriarcal.

“Na minha opinião nada é mais antiquado do que chamar alguém de vulgar!! Nós estamos em 2021, e temos que nos policiar para não usar termos para controlar o comportamento feminino. Pensa bem, o que chamam de vulgar é uma mulher livre do controle opressor de uma sociedade moralista. Então, vulgar é um adjetivo pejorativo para controlar nossos corpos e principalmente nossa liberdade. Eu precisei encarar os meus preconceitos também. E foi estudando que eu fui aprendendo e questionando muitas das coisas que nos são impostas. Eu sei quem eu sou e principalmente sei quem eu quero me tornar, quais liberdades quero conquistar”.

“Ser mulher segue não sendo fácil. É uma luta diária. No entanto, tivemos grandes avanços, a nossa articulação e força conjunta é o principal deles, não calarão mais as nossas vozes! Sempre que surgir alguém para mandar calar a boca, teremos mais força porque estamos unidas, somos muitas mulheres numa única voz. Isso não vão nos tirar! Mas no cenário atual, estamos perdendo mais. Digo isso como brasileira, como cidadã, não apenas como mulher. É por isso que precisamos seguir lutando, questionando o que nos impõe, elucidando o sistema em que vivemos”, explicou.

“Ser mulher segue não sendo fácil. É uma luta diária”, afirmou

Relacionamento aberto

“Falar do meu relacionamento, pra mim, é uma questão política. É muito mais do que falar sobre monogamia ou não. O que trago em questão é o fato de nós mulheres repetirmos padrões, de geração para geração, sem questionarmos se é isso mesmo que queremos. A monogamia não é escolhida, é imposta como se fosse a única possibilidade. E vamos combinar que há uma certa permissividade dos homens não cumprirem pacto monogâmico na relação. A minha escolha foi feita à base de estudos. Eu mergulhei na história da mulher na nossa sociedade”.

“Nós somos criadas para reproduzir um padrão que foi imposto há séculos. A fidelidade surgiu para garantir ao homem a certeza de que seu patrimônio ficaria com seus herdeiros legítimos, uma vez que ele deixaria suas posses para o filho. Eles impediam que suas mulheres tivessem relações com outros homens. Só que, nessa decisão, a mulher sempre saiu em desvantagem porque os homens sempre seguiram se relacionando com quem eles quisessem”.

“A monogamia não é escolhida, é imposta como se fosse a única possibilidade”, disse

“Não quero generalizar, mas é uma realidade. Eu quero é que nós mulheres, façamos nossas escolhas conscientes do nosso desejo e não apenas porque um sistema criou regras e devemos obedecê-las sem questioná-las. Estou falando sobre mulheres terem os mesmos direitos que os homens. E isso não se limita à questão financeira, profissional, mas também à vida afetiva, sexual, ao corpo. Avançamos nessa luta, mas o caminho ainda é grande”, pontuou.

 Fernanda Nobre com cabelo solto e semblante sério
Foto (Divulgação/Vinicius Mochizuki)

Um Lugar ao Sol

De volta às novelas, Fernanda está dedicada às gravações de “Um Lugar ao Sol” e mesmo sem poder falar muito sobre a personagem, ela descreveu sobre a trama a qual faz parte.

“Não posso dar muitos spoilers sobre a novela (risos), mas a história dela, central mesmo, estará com os personagens do Cauã Reymond e da Alinne Moraes. A novela é um retrato do seu tempo. Podemos fazer entretenimento, e ao mesmo tempo, informar. A arte é uma ferramenta de transformação. Eu acredito que uma novela pode trazer reflexões importantes para o público e ajudar a desmistificar algumas questões que deveriam ser normalizadas, mas ainda não são”, disse.

Com diversos temas sendo abordados na novela, como por exemplo relacionamentos entre um homem maduro com uma mulher mais jovem, a atriz falou sobre o que pensa. “Não. Não vejo nada demais em namorar homens mais novos. Homens mais velhos namorar mulheres mais novas. Eu acho que, se existe amor, tudo é possível. Infelizmente existe um controle sobre a vida alheia. E eu não consigo entender”.

“Eu não vejo como uma nova vertente, porque as novelas sempre trouxeram esses temas pertinentes para a sociedade. A TV sempre teve um papel importante de edição no nosso país. Como eu disse, vejo a arte como um agente transformador. E podemos fazer isso nas novelas, contando essas histórias, dando visibilidade a esses temas”, explicou.

Saudade de Fernanda Young

A atriz falou também da peça “Ainda Nada de Novo”, que faria ao lado de sua xará Young, que faleceu em 2019.

“A peça era escrita por Carlos Canhameiro. Fernanda era atriz convidada por mim e pelo meu parceiro, também diretor do espetáculo, José Roberto Jardim. Foi uma perda muito dura, estávamos muito amigas naquele momento. Mas a Fernanda segue presente em mim. Ela foi (e sempre será) uma das pessoas mais fascinantes que eu conheci. Foi um privilégio tê-la como amiga, como parceria profissional. Eu tenho muito carinho por esse projeto. Quem sabe um dia”.

Atos contra o governo

Unidos, a classe artística tem manifestado seu descontentamento contra o governo pela má gestão contra covid-19. Questionada, Fernanda disse que sim, também se posicionou nas redes sociais, e esclareceu o mal-entendido. 

“Eu acredito que você não tenha visto tudo… Eu me posiciono quase que diariamente nos meus stories, nos vídeos que eu posto no meu IGVT. Nossa, se numa olhada rápida você não viu o meu posicionamento, me preocupa porque é quase uma ofensa. Estar contra este governo é uma questão de ética. Todo cidadão é político. Mas neste momento atual temos que ser guerrilheiros. Todos os nossos atos em sociedade são políticos, por isso, é impossível viver alheio à política. Eu sou artista, e como tal, acredito que temos esse dever na sociedade de questionar e propor reflexões”, concluiu.

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