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Julio Andrade: ‘Sob Pressão me seduziu’

Divulgação/TV Globo/Mauricio Fidalgo Páprica Fotografia

As noites de terça-feira ganharam um misto de tensão, indignação é um série de outros sentimentos, para quem sintoniza na Globo e assiste a sensacional Sob Pressão. Criada a partir do filme homônimo de Andrucha Waddington, a minissérie aborda um tema que se destaca no país: o caos da saúde pública.

Na história central, Dr. Evandro (Júlio Andrade) e sua equipe, que inclui a médica Carolina (Marjorie Estiano), enfrentam dias tensos no hospital em que trabalham diante de situações e cirurgias muito complicadas. Em entrevista à OFuxico, Júlio Andrade fala sobre o sucesso da trama e detalhes de sua carreira.

OFuxico: Você é um ator que faz bastante séries. O que te motivou a protagonizar Sob Pressão?

Júlio Andrade: Série é um lugar novo para os atores. A possibilidade de você fazer um personagem e encontrar ele um pouco depois é muito interessante. É metade novela, metade cinema. Tem a urgência da novela, e o cuidado do cinema. Minha grande paixão sempre foi cinema, então podendo levar um pouco do cinema para a televisão, para mim é o que vale. Sou movido a desafios, e encarar um lugar que para mim é muito difícil, me seduziu. Sob Pressão me seduziu.

OF: No filme, seu personagem, o Evandro é casado e na série ele, após ficar viúvo, se apaixona pela Dra. Carolina. Como foi lidar com esse sentimento em meio ao caos do ambiente de trabalho dos personagens?
JA: Ele não estava esperando por esse amor e acaba acontecendo, fazendo com que ele volte a viver, e sorrir, que era algo que ele não fazia há tempos. Evandro é totalmente cético, já ela tem fé pra caramba e são opostos que transformam isso numa coisa bonita. Ela acaba sendo o remédio que ele estava precisando.

OF: Embates éticos são abordados em todos os episódios. Como você avalia a ética nesta profissão?
JA: É uma das coisas principais. O médico não se envolve de modo pessoal com o paciente, mas ele tem que salvar aquela vida. O Dr. Evandro é super ético, então ele não aceita que as coisas não andem na linha. Eles precisam manter o controle. Por isso também que o médico não pode operar nenhum familiar, porque ele acaba se envolvendo de outra forma com aquele paciente. Diante de uma situação limite como médico, você precisa ser rápido.

OF: Ele não acredita em nada, é cético e muitas vezes soa como insensível. Como você lida com isso?
JA: Eu, Júlio, tenho fé pra caramba, só não sigo uma religião. Acredito em algo maior. Quando estou a fim de rezar e meditar, eu vou mexer na terra, nas plantas, é ali que me encontro. Durante o filme visitei hospitais, e como olheiro em algumas cirurgias. Para a série eu resolvi não fazer porque minha cota de cirurgias já estava bem legal para poder fazer este personagem.

OF: Conseguiu aprender alguma coisa?
JA: Em primeiros socorros eu me dou bem. Se alguém cair aqui, eu vou saber o que fazer. Eu já admirava os médicos, agora admiro muito mais. Os tenho como heróis. Meu personagem é meio McGiver da medicina, ele se vira com o que tem, e infelizmente essa é a situação dos nossos hospitais.

OF: Você então não tinha ideia dessa dimensão antes, da dura realidade de um hospital público, que sobrevive sem os recursos necessários?
JA: Como todo brasileiro, estou super indignado. Vivemos um momento em que o país está doente. A questão dos hospitais é só uma parcela da merda toda que está acontecendo. Outro dia falei em entrevista que um país sem cultura é um país sem oportunidade, que adoece. Acho que as pessoas estão doentes por falta de saúde, de trabalho. O Brasil hoje é uma ferida aberta que precisamos cuidar.

OF: E como resume a experiência?
JA: O hospital acaba sendo um reflexo de tudo o que acontece no país. Você tem ali um menino que chega com uma bala perdida, outro que engole uma bala de cocaína, outra que é atropelada, e vamos criando personagens do nosso cotidiano naquele universo hospitalar. É um recorte do Brasil dentro de um único lugar. Vi muitas situações limite, inclusive gente baleada chegando escoltada por policiais. A gente está num momento em que achamos tudo normal, mas não podemos nos acostumar com o absurdo. Fiquei muito nervoso, por não saber o que fazer, mas ao mesmo tempo fui seduzido por aquela situação. Cheguei perto do cara, vi o furo da bala, o médico dando os primeiros socorros e me interessava muito mais o olhar do médico perante a cirurgia, do que a própria cirurgia. Fiquei observando o que eles conversavam, e isso para mim é mais interessante. Eu tenho um pouco de aversão a hospitais, e graças a Deus tenho uma boa saúde. Minha família e eu quase nunca vamos, mas sei que a maior parte da população precisa e depende desses hospitais públicos.

OF: Diante dessa experiência na ficção, você seria um médico?
JA: Nunca. Não funciono sob pressão. Tive que me adequar aqui porque tínhamos muito pouco tempo para fazer 9 episódios. Então, eu não tinha tempo nem para tomar café, emagreci. É uma energia que levamos para a vida.

OF: A carga emocional desse personagem é grande. Como se despe dele?
JA: Quando comecei a fazer cinema, eu tinha uma preparação e envolvimento que era muito mais vertical. Com o tempo fui aprendendo que isso começou a me fazer mal. É um lugar muito denso, e como ator não posso me envolver com a causa, tem técnica e preparação psicológica. Hoje em dia eu cuido mais de mim, aprendi com o tempo a não levar os personagens pra casa."

OF: A repercussão da minissérie tem sido enorme. A expectativa de mudanças, também. Durante as gravações vocês vislumbraram isso?
JA: Precisamos de mudanças? As pessoas se identificam diretamente. Era um momento muito propício para essa série acontecer. Quando se coloca algo desse tipo para as pessoas assistirem, a gente espera algo acontecer, que aconteça uma melhora na nossa saúde, que consigamos nos mobilizar para isso.

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