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Lorena Comparato sobre mulheres no humor: ‘Preconceito velado’

Reprodução/Instagram

Nesta quinta-feira (22), Lorena Comparato concedeu uma entrevista exclusiva para a reportagem de OFuxico. A atriz contou como começou a fazer humor.

"Eu decidi que eu queria ser atriz desde os três anos de idade e sempre estudei muito para isso. Eu sempre fui uma pessoa que as pessoas me viam como uma pessoa engraçada. Eu não me acho muito engraçada, mas as pessoas acham. E eu gosto muito de humor, então acabou que as coisas que eu acabei criando foi para esse lugar do humor ácido. É a forma como eu vejo o mundo. Acho que a gente tem que ver o mundo com leveza, com alegria, mas ao mesmo tempo tem que ter uma crítica, uma acidez. Por acaso, a minha carreira foi caminhando para isso. Foi uma coisa do fluxo mesmo, que veio de mim, mas também veio do mercado", disse ela.

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Cia de 4

 

Ao lado de Andrezza de Abreu, Anita Chaves e Karina Ramil, Lorena integra o grupo de humor Companhia de 4. As artistas se conheceram muito jovens e decidiram trabalhar juntas.

"A gente se conhece do teatro, da escola de teatro. A gente estudou junto desde muito cedo, teve um festival de teatro que eu vi uma cena das meninas e eu falei 'eu quero trabalhar com essas meninas'. Fui falar com elas e falei 'cara, vamos fazer um grupo'. Elas estavam muito desacreditadas, mas deram um voto de confiança e começamos a estudar, a fazer cena. Quando a gente ia se separar, a gente ganhou o prêmio de melhor esquete", contou.

Atualmente, o grupo apresenta o Jornal das 4 nas redes sociais. As humoristas comentam sobre as principais notícias de uma forma bem-humorada e leve.

"Eu espero que o humor ajude as pessoas a lidar com esse momento. Eu sinto que com o Jornal das 4, a gente vem com esse humor ácido para tentar fazer a pessoa digerir aquelas notícias que estão tão difíceis. A gente espera que esse humor traga essa leveza para o que está acontecendo. Mas sabemos que não dá para ser completamente leve, se não acabamos sendo ignorantes ou negacionistas e esse não é o tipo de humor que a gente gosta de fazer", afirmou Lorena.

Pandemia

 

Por conta da pandemia do novo coronavírus, todo mundo precisou ficar em quarentena, para diminuir o contágio da doença.

Durante a conversa, Lorena contou que foi um período de altos e baixos.

"Eu comecei a pandemia super bem, eu moro com a minha mãe. Eu sempre trabalhei muito, minha mãe também, então foi uma aquietada de ritmo para a gente que foi bom. Eu acho que tem uma insegurança que bate o tempo inteiro porque durante a pandemia, eu não tive nenhum trabalho pago", contou ela.

A artista aproveitou o momento para se dedicar aos estudos.

"Eu decidi estudar, fiz vários cursos e entrei no mestrado. O estudo me salvou muito e a companhia me salvou muito. Esses trabalhos vão tirando você um pouco dessa realidade horrorosa que a gente está vivendo", contou.

O período de quarentena também foi de reflexão para Lorena.

"Eu fui para um mergulho interior gigante de repensar a minha vida profissional, minha vida amorosa, as relações que eu tenho com as pessoas".

Preconceito

 

Infelizmente, ainda há um preconceito com mulheres que trabalham no humor. Para Lorena, é uma coisa velada, mas que existe.

"Tem preconceito com mulher em tudo, ele é tão velado que a gente não consegue ver. Assim como o racismo estrutural, as pessoas negam que existe esse patriarcado tão forte. Questão de salário, questão de visibilidade, questão de reconhecimento. Às vezes eu me pergunto 'se a gente fosse um grupo de meninos, será que a gente não estaria muito mais longe?''.

Em seguida, Lorena Comparato afirmou que as coisas já estão começando a mudar.

"A gente vê os casos de assédio. Se um cara diz que ele sofreu algum tipo de violência, a palavra dele é aceita. Tem uns casos desses abusadores em série, aparecem várias mulheres e ainda não é suficiente. Eu estou gostando da mudança que está tendo agora, as pessoas estão começando a abrir os olhos. Eu acho importantíssimo a gente fazer isso em sociedade", disse.

Outro preconceito que os humoristas sofrem se refere à crença de que eles não conseguirão sair bem em nenhum outro papel que não seja humorístico.

"Eu acho que isso é um super preconceito. Na minha opinião, a grande referência do humor é o palhaço e o palhaço é uma figura triste. Essa figura lida com os acontecimentos da vida fazendo os outros rirem da desgraça dela. Eu nunca passei por esse preconceito. Acho minha carreira bem diversa nesse sentido. A série Impuros tem uns tons de comédia, mas é uma série dramática. Eu entendo as pessoas me verem como uma atriz do humor, mas eu gosto muito dessa hibridez", contou.

Atualmente, ainda existe um tipo de humor preconceituoso. Para Lorena, isso já passado e é completamente possível fazer piadas sem diminuir a existência de ninguém.

"Esse politicamente correto que as pessoas falam que é mimimi, uma reclamação. Eu falo ' gente, vocês não entenderam que o de antes era politicamente incorreto'. Agora, a gente está tentando emplacar um discurso inclusivo. Antes, quem ria era uma pequena parcela da população e uma outra parcela inteira ria, mas sofria por dentro. Eu acredito em um tipo de humor em que todo mundo ri sem sofrer. Eu acho isso muito possível", afirmou.

Carreira de produtora

 

Em 2020, Lorena Comparato protagonizou e produziu o filme Lacuna, um terror dirigido por Rodrigo Lages.

"Eu quero entrar em um filme e quero dar minha opinião, quero falar do roteiro, quero ver o primeiro corte, quero ter voz. Fui galgando esse lugar. Mesmo sendo jovem, eu tenho uma carreira de mais de dez anos e muita experiência", afirmou.

Inspirações

 

Na entrevista, Lorena contou que se inspira em muitas pessoas do mundo artístico.

"Eu me inspiro tanto na Tatá Werneck, quanto na Claudia Abreu, Andrea Beltrão, Tais Araujo, essas mulheres potentes, fortes".

Como era de se esperar, a atriz fez questão de citar a irmã Bianca Comparato.

"Sou irmã caçula da Bianca Comparato, não tem como ela não me inspirar. Se eu puder falar fora do ramo artístico, minha mãe também me inspira muito".

Internacionalmente, Lorena tem como inspiração Reese Witherspoon.

"Gosto muito também do trabalho da Reese Witherspoon. Ela é uma atriz que galgou um lugar como produtora, fazedora de projetos que me inspira muito", contou.

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