Nem masculino, nem feminino! Bárbara Paz se descobre como não binária

Por - 28/05/21

Reprodução Instagram

Foi graças a uma conversa com um amigo que, depois de anos, Bárbara Paz entendeu sua sexualidade: ela é uma pessoa não-binária, que não se classifica exclusivamente no gênero masculino ou no feminino.

“Sou uma pessoa inquieta. Uma mulher, um homem, não-binária. Descobri que sou não-binária há pouco tempo. Um amigo meu falou que eu era, e eu acreditei, entendi”, disse ela ao participar do podcast "Almasculina", de Paulo Azevedo.

Barbara destacou que sua mente criativa imaginação a deixa em constante busca.

“Sou uma pensadora, uma diretora, uma cineasta, uma atriz, uma pintora, uma escritora. Nas horas vagas a gente tenta tudo com as mãos, com a cabeça, com o cérebro e com a imaginação. A imaginação precisa estar trabalhando o tempo todo. Então, não sei bem quem eu sou. Se tiver alguma referência para me dizer quem eu sou, ainda estou em busca”, afirmou.

“Sou muitas coisas. Sou muitos, muitos, muitas. É difícil dizer quem você é para se apresentar. Sou uma pessoa de fazer o que tenho dentro, o que não é pouco”.

Viúva do diretor Hector Babenco, ela relembrou como aprendeu sobre sexualidade e afirmou que nunca teve preconceito contra a diversidade.

“Não tive a cultura dentro de casa de perguntar sobre sexualidade. Tudo o que aprendi foi lendo em revistas. Não se falava disso. Se falavam, não me lembro, porque eu nunca me questionei muito. Se é homem ou mulher, do que você gosta. Para mim, você gosta de pessoas”.

A atriz contou no podcast que o último ano serviu para que ela se encontrasse ainda mais.

“O ser masculino dentro de mim tem muitas razões de ser. Muitos homens habitam dentro de mim. Quando ouvi esse discurso do não-binário, do transgênero, pensei: ‘Será que se tivesse escutado isso com 12 ou 13 anos, eu teria achado que eu era pelo fato de eu sentir isso?’. E não estou falando de sexualidade, mas de sensação”, disse.

“Às vezes eu me olhava no espelho e me sentia um garoto. Eu me olho no espelho hoje e sou uma mulher com peito, bunda, curvas… E você fala: ‘Nossa, é superestranho’. Muitas vezes. Não é que eu não gosto. É estranho às vezes. E às vezes eu gosto. Então, gosto de ser menino e de ser menina. Pode? Hoje pode! Então hoje chama não-binário? Isso! Nossa, que legal! Então, está tudo certo eu falar isso? Não”, afirmou.

A artista enfatizou que ainda não se apaixonou pelo mesmo sexo.

“Cada vez mais a gente consegue respirar e ser a gente. E isso não tem a ver com sexualidade, se gosto de mulher ou de homem. Gosto de pessoas. Até agora, me apaixonei por homens, mas gosto de pessoas”.

Ela, que namorou Supla na época do reality “Casa dos Artistas”, estava mais recentemente com o empresário Paulo Sousa.

Referências masculinas

Bárbara ficou órfão de pai aos 06 anos e comentou sobre suas referências masculinas ao longo da vida.

“Tenho lembranças do que me contavam do meu pai. Mas de fato eu não lembro. Me lembro do que minha mãe contava sobre ele: que ele era um cachaceiro (risos), político… Então, guardo essas histórias como sendo minhas” afirmou.

“Tenho recordação do meu avó, de quem eu gostava muito. Mas ele já era um homem doente também. Desde que eu me conheço por gente já me lembro dele debilitado. Então, o masculino, ele veio”, disse

“Olha que interessante: as primeiras imagens eram dos médicos da minha mãe, que cuidavam dela, que zelavam por ela. Para mim, eles eram anjos. Eu era uma criança. Eu era apaixonada por aqueles médicos porque ali eu sabia que minha mãe estava viva, bem cuidada. Sabia que ela ia voltar para casa”.

A artista destacou que a figura masculina sempre lhe deu a sensação de proteção e isso faltou em sua casa.

“Meu modelo de masculinidade é um lugar de conforto, de rede de proteção. Esse foi o masculino que eu vi. Éramos cinco mulheres em casa à espera de um maestro que nunca chegou”.

Homem da casa

Bárbara tinha 17 anos quando perdeu a mãe, que tinha problema renal e fazia hemodiálise. A atriz destacou que assumiu a liderança da casa antes mesmo da mãe morrer.

“Acabei virando maestro dessa história. Eu acho que eu fui o homem da casa. Mesmo sendo a criança, eu me sentia responsável por cuidar da casa. Minha ideia, quando criança, de quando eu subia nas árvores, era: ‘Então eu vou sair daqui, vou levar minha mãe para São Paulo, vou achar um médico’", contou.

“Eu comecei a trabalhar com 9 anos. Ninguém me falou para ir trabalhar. Eu sabia que ia ficar sem dinheiro, que minha mãe precisava. Então, esse lado meu masculino, que sei que tenho muito forte (veio dali)”, disse ela, que aos 27 anos sofreu um acidente gravíssimo no qual teve um corte profundo no rosto.

Plínio Luiz virou Bárbara

Bárbara Paz contou que, na infância, usava cabelo curto e era muito magra. E destacou que não se sentia confortável com os padrões.

“Não tinha tênis, tinha um Kichute. Eu tinha que usar um vestidinho para agradar à minha mãe. Só que eu detestava aquele vestidinho amarelinho. Sempre quis agradar muito. Então, eu era metade menino, metade menina. Por isso falei: cresci assim. Eu era uma indefinição”.

“Sou muito feminina, tenho os traços femininos: lourinha, toda princesinha, ‘ai que bonitinha, toda pequenininha. Agora não sou mais tão pequenininha. Mas esse lado masculino, de ser moleque, menino, nasceu comigo”, pontuou ela.

Nascida numa família de outras três irmãs, Bárbara disse que a expectativa, quando a mãe engravidou dela, era de que nascesse um menino.

“Eu ia ser menino. O quarto era ‘a salvação da família’. Aí deu mulher, mulher, mulher… O quarto ia ‘ser homem com certeza’. Eu já tinha nome, ia me chamar Plínio Luiz. Aí nasci sem nada no meio, para ‘a evolução da espécie, da família’ (risos). E aí meu pai parece que deprimiu”.

“Aconteceram várias coisas. Minha mãe adoeceu no meu parto. Então tive vários problemas também. Mas essa coisa masculina, talvez eu tenha crescido querendo ser esse menino, querendo ser também. Inconscientemente”, relatou.

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