Relembre os beijos gays que marcaram a TV brasileira

Por - 14/03/21 - Última Atualização: 6 abril 2021

Reprodução/Globoplay

Na última semana, o beijo de Lucas Penteado e Gilberto completou um mês. Os dois entraram para a história do Big Brother Brasil com o primeiro beijo entre dois homens ocorrido no reality show. 

O beijo virou um show de bifobia após Lumena Aleluia, Karol Conká, Pocah e Nego Di acusarem Lucas Penteado de usar Gilberto Nogueira como parte de uma estratégia para ganhar destaque dentro do BBB21. O quarteto invalidou a bissexualidade do ator e o julgamento em cima de Lucas fez com que ele desistisse do programa, o que causou muita revolta nos espectadores.

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Em 2014, o BBB já havia exibido beijos entre as participantes Vanessa e Clara. Em 2010, Serginho e Dicésar chegaram a dar um breve selinho, mas o primeiro beijo, de fato, entre dois homens, ocorreu somente na atual edição do programa, em 2021.

Pensando nisso, OFuxico separou alguns beijos que marcaram a história da TV brasileira.

A calúnia

Vida Alves protagonizou o primeiro beijo gay na televisão brasileira no teleteatro A Calúnia (TV Tupi, 1963), em cena com a atriz Geórgia Gomide, que foi transmitido ao vivo. Como não havia videotape na época, não há registro dessa cena.

"As novelas eram mais simples que as de hoje", lembrou a atriz Vida Alves em depoimento ao programa Witness do serviço mundial da BBC. "Não passavam todos os dias, só duas, três vezes por semana, porque só assim podiam ser transmitidas. A TV era muito pequenina. Só havia programação noturna."

Panorama Com Vista Para a Ponte

O primeiro romance entre dois homens foi de Lima Duarte em Cláudio Marzo, em 1963, em Panorama Com Vista Para a Ponte, de Arthur Miller. A cena também foi transmitida pela TV Tupi.

Em entrevista à coluna Fefito, Lima narrou a cena em que o beijo teria acontecido. “Fui eu quem deu o primeiro beijo! E te digo como, em que circunstância. Foi na peça ‘Panorama Com Vista Para a Ponte’, do Arthur Miller. Se passava tudo no cais do porto de Nova Iorque. Quem dirigiu foi a Wanda Kosmo. Mas era eu que fazia o ítalo-americano portuário, estivador que tinha uma filha de criação, que era Rita Cléos, uma atriz loirinha, bonitinha. A minha mulher era a Wanda Kosmo, que dirigia. Nós criamos aquela menina grande, e um dia ela aparece: ‘Ah, ela tem um noivo, namorado’. Eu quis saber quem é o sujeito! Aí ela traz eu e Cláudio Marzo… ‘É isso aí? Você está namorando isso aí é um veado! Você não vê que ele é veado? Quer ver como ele é veado?’ Pegava ele e dava um beijo violento. É uma grande cena! Um beijo na boca. Fica evidente que ele era apaixonado pela filha adotiva”, narrou.

O artista ainda falou a respeito da repercussão na época, e disse que não houve reações negativas por conta de um beijo.

“Não, nem foi um escândalo, porque a cena era muito bem colocada! Era psicologicamente correto. Então, peguei e dei aquele beijo na boca. O Claudio era muito meu amiguinho”, disse ele.

Beijo de Zeca e Júnior

Depois disso, demorou a ser consumado o primeiro romance homoafetivo em telenovelas. O beijo entre Zeca  (Erom Cordeiro) e Júnior (Bruno Gagliasso), da novela da Globo, América, chegou a ser gravado mas nunca exibido. Mesmo assim, o público da época demonstrava torcer bastante pelo casal.

Em entrevista ao jornal O Tempo, Glória Perez, autora da novela, disse que ficou decepcionada pelo beijo não ter ido ao ar no último capítulo e revelou que a decisão veio da direção da Globo.

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"A decisão veio da direção da Globo, que achou conveniente cortar a cena. Eu não quero esta responsabilidade para mim. Quando eu e Marquinhos decidimos que haveria a cena, a emissora disse que assumiria. É uma injustiça dizerem que eu não quis mostrar o beijo”, disse a autora, que na época confessou ter ficado surpresa com a boa aceitação do público, que torceu para o casal homossexual. "Até os homens heterossexuais, que são mais conservadores, queriam o beijo. Todo mundo queria. Eu adorei porque isso mostrava que as coisas estavam mudando no Brasil”, disse.

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Zeca e Júnior

Amor e Revolução

A cena de romance vivida pelas atrizes Luciana Vendramini e Giselle Tigre, aconteceu na novela "Amor e Revolução", do SBT, e foi ao ar no dia 12 de maio de 2011. As atrizes viviam as personagens Marcela e Marina, respectivamente, e assumiram a forte paixão que uma tinha pela outra. A repercussão, no entanto, foi negativa e a ideia de repetir a cena com Lui Mendes e Carlos Thiré foi abandonada. 

Em entrevista ao EGO, a Luciana disse que a repercussão do romance com Giselle foi muito boa na sua carreira.

"Foi a melhor repercussão que eu tive com uma personagem. As pessoas vinham falar comigo me elogiando pelo trabalho. Não eram só gays não, todos os públicos falavam, principalmente muitas mulheres. Elas diziam que queriam que eu terminasse a novela com a personagem Marina e não com o Tiago, que foi o meu verdadeiro par na trama. Isso foi até um choque pra mim, toda essa repercussão positiva, nunca imaginei que as pessoas torceriam por um casal gay naquela época", disse ela.

Amor à vida

A Globo finalmente decidiu levar ao ar o beijo entre Thiago Fragoso e Mateus Solano, de Amor à Vida, em 2014. Foi criada uma expectativa em torno da cena e o sucesso dos personagens Félix e Nico levantou a audiência e teve boa repercussão. Segundo Solano em entrevista à Quem, o beijo aconteceu pelo desejo dos próprios telespectadores.

"A cena do beijo foi cercada de muita expectativa. Primeiro, o Felix não foi construído para terminar bem, ele era um vilão e terminaria como tal. Porém, houve um caso de amor tão grande com o público que ele foi obrigado a se regenerar na segunda metade da novela. Foi aí que surgiu a ideia de juntá-lo com Niko. Me lembro bem da primeira cena em que gravamos juntos e o Maurinho Mendonça, diretor, me chamou e disse que a cena era para ver se o casal 'ia colar com o público'. E colou. O público torceu muito pelo casal. E torceu tanto que começou a exigir um beijo, afinal um casal que não se beija numa novela tem algo errado", explicou o ator.  

"A gente sabia que era algo importante e que ficaria pra posteridade. Havia muito cuidado pra gente não errar, essa cena era aguardada há muitos anos. Se você pensar em como a novela está no DNA do brasileiro, de uma certa forma, toda a comunidade LGBTQIA + estava fora desse fenômeno. A gente queria corrigir essa miopia", enfatizou Thiago. 

Em família

Ainda em 2014, o esperado beijo de Clara (Giovanna Antonelli) e Marina (Tainá Müller), na novela Em Família, da Rede Globo, foi o primeiro entre duas mulheres da história das novelas da Globo. Na cena, as duas estão no estúdio de fotografia quando Marina pede Clara em casamento e a surpreende com uma aliança. As duas deram um breve selinho e protagonizaram uma cena cheia de romance. 

Império

Se sentindo mais à vontade, a Globo apostou em José Mayer para elevar a importância da relação homoafetiva na TV e exibiu um ‘selinho’ com Klebber Toledo na novela Império, que teve grande audiência. 

Babilônia

Em 2015, ninguém menos que Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg formaram um casal de mulheres maduras em Babilônia, que já teve beijo logo no primeiro capítulo, pegando o público de surpresa. As duas viveram um casal lésbico na trama. Em entrevista à Contigo!, Fernanda comentou sobre a repercussão do beijo e confessou ter ficado supresa com o fato da cena ter sido tão comentada.

“Não posso acreditar que ainda se espantem com a homossexualidade. Não acredito que, depois de tantas novelas com essa temática, ainda tenha esse escândalo. É uma bobagem”, disse a atriz.

Liberdade, Liberdade

Em 2016, a Rede Globo exibiu a primeira cena de sexo Caio Blat e Ricardo Pereira, em Liberdade, Liberdade, que ia ao ar às 23h. O romance entre um militar e um rapaz foi se desenvolvendo lentamente e cativando o público. A cena causou polêmica na época e dividiu a opinião dos espectadores na época.

Malhação: Viva a diferença

O beijo de Manoela Aliperti e Giovanna Grigio, em Malhação: Viva a Diferença (2017), também animou os espectadores. Lica (Manoela Aliperti) e Samantha, interpretada por Giovanna Grigio foram um dos casais que mais tiveram a torcida do público e o beijo das duas derreteu o coração dos fãs. 

Em entrevista à Notícias da TV, Giovanna revelou ter ficado orgulhosa por ter protagonizado o primeiro beijo entre duas garotas numa temporada de Malhação, mas confessou que ainda acha que a TV demorou para exibir isso e que a forma como retrata casais LGBTQ+ ainda passa por moralismo.

"A maneira com que a gente está acostumado a ver a representação de personagens e casais LGBTQ+ na TV aberta é, de certa forma, muito problemática, porque é heteronormativa. A gente está acostumado a ver casais heterossexuais se beijando, com cenas de sexo, em Malhação ou até mais cedo, sem nenhum problema. Aí, quando aparece um casal LGBTQ+, é só um selinho e olhe lá, porque tem todo esse moralismo [na sociedade]", afirmou.

"Eu acho que, quando a gente conseguiu botar no ar o beijo entre Samantha e Lica [em um horário] tão cedo, foi um passo para um caminho muito longo que a gente tem para normatizar as relações homoafetivas que estão por aí, que existem, e são naturais. A TV aberta tem um papel muito importante nisso, educacional. Eu me senti muito honrada de poder fazer parte dessa história, apesar de que eu queria que essa diversidade tivesse sido retratada antes da gente”, continuou.

Orgulho e Paixão

Ambientada no início do século 20 e exibida na faixa das 1, a novela Orgulho e Paixão (2018) contou com uma aguardada cena de beijo entre Luccino (Juliano Laham) e Otávio (Pedro Henrique Müller). "Fiquei muito feliz de poder contar essa história de amor de uma forma tão pura, genuína e carinhosa. Esse marco (beijo) no romance dos dois personagens foi o melhor que podia ter acontecido para o casal”, disse o artista.

Sob Pressão

Em 2019, Kelner Macêdo e Bruno Garcia interpretaram um beijo gay em Sob Pressão no dia em que STF criminalizou a homofobia. Na cena, Kleber se aproxima de Décio e pergunta se o médico se lembra dele e se já foi liberado do plantão.

 "Você parece ser um cara legal, mas é meu paciente. Existe um código de ética médica que eu tenho que seguir. Me desculpa", respondeu Décio.

O personagem de Kelner insiste na ideia ao lembrar que ele já não é mais oficialmente paciente de Décio, então, como resultado da química entre eles, acontece o grande beijo.

Bruno Garcia contou ao site da série médica global que não viu barreiras em viver essa cena. 

"Zero problema em dar um beijo na boca de outro homem, pelo contrário, é até um desafio dramatúrgico maravilhoso", explicou.

"A gente está fazendo um seriado que é realista. Não tem discussão. Vamos dar o beijo e é isso, vamos só cuidar para que a cena seja delicada e não pareça apelativa'", afirmou Garcia.

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