Rodrigo Lombardi: “Minha vida não teve planejamento. Emendo uma novela na outra”

Por - 28/10/12 às 10:08

Luiza Dantas, Jorge Rodrigues Jorge / Carta Z Notícias.

Nem ajudante de pedreiro, nem garçom, nem jogador de vôlei. Rodrigo Lombardi exerceu essas três profissões, mas felizmente, não seguiu nenhuma. Ele sempre foi daqueles caras boa-pinta, que sempre topavam trabalhar para ganhar uma grana. Assim, paralelamente, fazia uma peça aqui, um participação ali ou atuava como modelo. Foi dessa maneira que o protagonista de Salve Jorge começou a carreira. Depois das parcas peças no início da carreira, estreou na tevê na novela Meu Pé de Laranja Lima, na Band, há 14 anos. De lá para cá, passou também pela Record e SBT, até estrear na Globo através do texto ágil do autor Carlos Lombardi, que pensou em fisgar o ator para ser um de seus tipos descamisados, que exibiam dorsos nus em tramas de pura ação.

Mas Rodrigo foi além. Hoje, aos 36 anos e um dos atores de maior destaque da Globo, o paulistano conseguiu se firmar em tipos mais fortes, galãs e até anti-heróis, embora seu único vilão, em Desejo Proibido, tenha enveredado pela comédia.

"Minha vida não teve planejamento. Emendo uma novela na outra desde que estreei na Globo. Estou aqui há sete anos e já fiz sete novelas. Cada papel me exige assimilação, estudo, preparo. Não se vira outra pessoa de uma hora para outra", valoriza.

Convidado por Glória Perez para protagonizar sua segunda novela seu primeiro papel principal foi o Raj, de Caminho das Índias, em 2009 –, Rodrigo emagreceu e se enveredou em pesquisas militares, sobre São Jorge e principalmente sobre o tráfico humano para lapidar o oficial da Cavalaria Théo, um cara correto, exímio cavaleiro, que começa a trama como namorado da tenente Érica, de Flávia Alessandra. Mas, durante uma ronda pelo Complexo do Alemão, após a pacificação das 13 favelas da Zona Norte do Rio de Janeiro, se encanta pela despachada Morena, da protagonista Nanda Costa. No entanto, com a intenção de se dar bem na vida, ela cai em uma armadilha e é traficada para a Turquia.

"Aí começa a novela e a saga dele. O Théo vai passar a trama inteira em busca dessa mulher, desse grande amor", adianta.

O Fuxico – Em Caminho das Índias você mudou de patamar como ator ao protagonizar sua primeira novela e em horário nobre. A partir daí, você se destacou e viveu o papel-título de O Astro. E agora você retorna como protagonista de outra trama da Glória. Como você avalia esta ascensão após ter chegado a fazer mais de 50 testes para conseguir papéis no início da carreira na tevê?

Rodrigo Lombardi – Tem gente que me fala, nossa o Raj era bem legal, mas de onde você surgiu? Aí eu respondo: "Tá com tempo para ouvir?". Cheguei a pensar em desistir diversas vezes da atuação, mas a intuição não deixava. Trabalhei em loja, fazia uma peça ali, um infantil aqui, tudo sem quase conseguir pagar as contas no final do mês. Mas, no momento em que assumi que realmente seria ator, tudo começou a acontecer. Estou há sete anos na Globo e na minha sétima novela. Dessa vez, para Salve Jorge, a Glória (Perez) me ligou de novo e disse: "Oi, Rodrigo. Quer fazer minha novela? Vai ser sobre o tráfico de pessoas". Respondi: "Claro que quero! Vou ser turco?". Ela disse: "Não vai ser turco, mas então tá, minha produção vai te ligar. Beijo!". Quando ela falou sobre o tráfico de pessoas, comecei a zapear e parei em um comercial da BBC de cinco minutos. Percebi o quanto a Glória é danada! Eu ainda estava gravando O Astro. Ela tem um olhar especial sobre o folhetim e não faz nada pequeno. São 96 atores na novela. Ela escreve sozinha para todo mundo! É insano! Ela é maluca!

OF – Que pesquisas você fez sobre o tráfico humano para esse trabalho?

RL – Durante os workshops, tivemos contatos com as famílias que perderam pessoas traficadas. Me emocionei muito. Assisti a relatos horrorosos de pais que perderam filhas e, até hoje, 10, 15 anos depois, ainda sofrem ameaças dos traficantes.

OF – Em algum momento o elenco também recebeu ameaças?

R -Sim! Fomos ameaçados por quadrilhas. Disseram: "Essa novela está começando e nós estamos de olho em você, heim! Cuidado!". Isso é muito ruim. Estamos mexendo em um terreno que não é só um folhetim para entreter as pessoas, mas para alertá-las. É uma campanha delicada, perigosa, mas estamos aqui para isso. Essa é a função do artista. Levantar a poeira para fazer com que as autoridades se mexam.

OF – Lidar com estes assuntos, principalmente relacionados ao crime internacional, não seria a função do estado?

RL – A gente tem o dever de divulgar e só uma novela em horário nobre tem esse poder nesse país. O tráfico humano está muito próximo da gente. As pessoas não têm ideia! Volta e meia assistimos a uma matéria ou outra nos jornais. Mas não sabemos o quanto esse esquema é diabólico. Ele já superou o tráfico de armas e só perde (em lucratividade) para o tráfico de drogas. Temos informações do quanto vale, em dinheiro, uma pessoa para determinado ofício em determinado lugar do mundo. Quanto ela custa, quanto ela gera de lucro.

OF–  O seu personagem é um oficial da Cavalaria. Você chegou a servir o exército?

RL – Não. Eu morava em um sítio no interior de São Paulo. Todo mundo era dispensado. Também, com 17 anos de idade, todo moleque fala “não quero, não quero!”. Mas, às vezes, deitava na cama e pensava que seria legal passar por essa experiência. Tenho amigos militares, da Marinha, que me explicam sobre regras básicas do regime e tenho muita consultoria na emissora. A cada cena que a gente faz, tem um militar do nosso lado falando "isso sim, isso não, isso tanto faz". Trabalhamos da forma mais correta possível dentro desses padrões. Mas é claro que sempre existem deslizes. Principalmente agora, depois da estreia, que você precisa gravar praticamente um capítulo por dia. Mas estamos muito seguros do que estamos fazendo.

OF – Como foi passar um tempo na Academia Militar das Agulhas Negras (em Resende, no interior do Rio de Janeiro)?

RL – Sempre tive uma admiração muito grande por essas pessoas. Já pratiquei equitação e pólo para personagens, daqui a pouco me jogam para fazer um paraquedista. Mas isso é o gostoso da profissão. Passamos uma semana tendo contato muito próximo com fuzis, blindados, com uma equipe de armamentos e técnicas operacionais que nos ajudavam a toda hora. Mesmo durante as gravações, parece uma rede militar o tempo todo. Também existe um comando de voz. Você identifica um militar pela fala. Mesclamos isso um pouco com a nossa forma de falar. É importante como você se coloca, como segura uma arma, como veste uma farda tradicional, uma farda de gala. Os workshops foram muito gostosos de fazer porque brincamos de polícia e ladrão desde que somos pequenininhos. Em vez de pilotar um carrinho de rolimã, pilotamos um blindado, em vez de pegar um brinquedo nas mãos, estamos com um fuzil.

OF – Como você reagiu ao saber que teria de representar um devoto de São Jorge, um dos santos mais populares do país e que traz tanto sincretismo religioso?

RL – Estou há sete anos no Rio e, desde que cheguei aqui, comecei a perceber que vários carros têm adesivos de São Jorge, as pessoas têm tatuagens, tem gente que cobre as costas inteiras com a imagem do santo. Em São Paulo é bem menos. Em estabelecimentos comerciais do Rio, sempre tem um quadrinho ou imagem dele. Falava: “Nossa, esse cara é muito forte aqui!”. Você conhece muitos cariocas que dizem ser filhos de São Jorge. Representar isso é muito gratificante, saber que o povo brasileiro vem com você com esse santo que passeia tranquilamente por todas as religiões. Isso que é bacana na presença de São Jorge nessa novela. É toda a mistura que ele também traz. Acreditamos nisso para fazer esse trabalho. Quando a fé deixa de ser só cênica e também passa a ser real, tem uma força muito maior.

OF – Seu primeiro papel de destaque na tevê foi sua estreia na Globo, em Bang Bang, onde começou a trabalhar com o autor Carlos Lombardi – que assumiu a trama de Mário Prata. Ele é conhecido por criar papéis descamisados e fabricar galãs na tevê. De lá para cá, você passou a emplacar papéis com esta função na teledramaturgia, quase sempre galanteadores. O posto de galã é uma zona de conforto?

RL – O galã fica por conta da imprensa e do público. Não tem isso de galã para mim. Tento encontrar a verdade dos personagens e os autores e a direção das tramas me encaminham para ser um galã ou não. As qualidades que atribuem ao personagem fica por conta das pessoas que o assistem. Mas o Théo tem uma fama de galanteador e mulherengo no regimento. Ele é o principal cavaleiro, o que sai para disputar provas de equitação com civis. Mas eu nunca me achei o herói "lombardiano", aquele cara solar que faz e acontece e sempre aparece malhando.

Contornos de combatente

Durante a adolescência, Rodrigo Lombardi tinha certeza de que seria jogador profissional de vôlei. Chegou até a competir em categorias de base, mas admite que parou de praticar o esporte porque não cresceu o suficiente para se destacar como atleta. Com isso, aos 17 anos, decidiu ir estudar em San Diego, nos Estados Unidos.

"Parei em 1,83 m de altura. Mesmo quando eu jogava, já era considerado baixo. Tinha habilidade, mas ficava no banco", diverte-se o ator paulistano.

Para a novela, no entanto, Rodrigo teve de voltar a se exercitar com maior afinco para aparecer impecável nas fardas de gala do capitão Théo na trama das nove. Com isso, a primeira providência de Rodrigo foi começar a malhar, apesar de não suportar academias. Mas, em seguida, descobriu uma identificação com a prática de ginástica olímpica e, com o esporte, conseguiu passar dos 93 kg para os 87 kg.

"Não dá para ficar desleixado, descuidado. Não suporto malhar, mas a ginástica olímpica é algo delicioso! O pior é ter de também fechar a boca", observa, aos risos.

Escalações chamativas

Rodrigo Lombardi chegou a se espantar por ter feito, quase consecutivamente, três personagens que usavam turbantes na tevê. Sua estreia com o figurino mais exótico foi em Bang Bang, como o excêntrico mágico Zoltar. Quatro anos depois, em 2009, veio o protagonista Raj, de Caminho das Índias, um sofisticado empresário indiano que não deixava suas origens para trás. Mais recentemente, Rodrigo foi escalado para o papel-título do remake de O Astro, onde viveu o ilusionista Herculano. O personagem o fez novamente ter aulas de mágica com os mesmos preparadores que o instruíram para as cenas de Zoltar.

"Acho que me escolheram para três papéis que precisavam de turbante porque já tinham o número da minha cabeça. Agora, em Salve Jorge, escapei por pouco. Pensei que seria turco", brinca.

Trajetória Televisiva

# "Meu Pé de Laranja Lima" (Band, 1998) – Henrique.

# "Marisol" (SBT, 2002) – Francisco.

# "Metamorphoses" (Record, 2004) – Fábio.

# "Bang Bang" (Globo, 2005) – Constantino Zoltar.

# "Pé na Jaca" (Globo, 2006) – Tadeu Lancelloti.

# "Desejo Proibido" (Globo, 2007) – Ciro Feijó.

# "Caminho das Índias" (Globo, 2009) – Raj Ananda.

# "Passione" (Globo, 2010) – Mauro Santarém.

# "O Astro" (Globo, 2011) – Herculano Quintanilha.

# "As Brasileiras" (Globo, 2012) – Rodrigo.

# "Salve Jorge" (Globo, 2012) – Théo.
 

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