Rogério Flausino fala dos 25 anos de Jota Quest e de aprendizados na pandemia

Por - 22/05/21 - Última Atualização: 16 dezembro 2022

Divulgação

Belo Horizonte, 1993. Nascia a Jota Quest, banda com inspiração no desenho curtido por muitos na década de 60: Jonny Quest.

O gosto pela Black Music fez o baixista PJ e o baterista Paulo Fonseca ter a vontade de montar a própria banda, que trouxe junto Marco Túlio Lara na guitarra e Márcio Buzelin nos teclados. Mas, faltava alguém…  Durante um teste que reuniu quase 20 candidatos, Rogério Flausino chegou encantando nos vocais e fechou esse “time” incrível que comemora agora, em 2021, seus 25 anos de estrada. Cinco meninos numa combinação perfeita de som e voz.

Um contrato com a Sony Music em 1996 trouxe ao público o primeiro disco da banda, o J. Quest, com “As Dores do Mundo”, composta por Hyldon (aquele do “Na rua, na chuva, na fazenda… ou numa casinha de sapê) e a balada “Encontrar Alguém”.

Banda Jota Quest

Daí pra frente foi sucesso e mais sucesso, álbuns com canções cheias de dança e emoções, dois Grammy Latino conquistados: Melhor Álbum Pop Contemporâneo Brasileiro, com Quinze (2011) e Melhor Álbum de Rock Brasileiro com Ao Vivo no Rock In Rio (2013).

Em 2015, pela escolha da audiência, venceram o MTV Music Brasil na categoria Vídeo Clipe de Pop, da canção O Sol.

E tantas conquistas fizeram esses cinco meninos, que seguem com a banda na mesma formação, consolidar uma amizade que virou família!

Falar de Jota Quest é falar de amor, falar de baladas, de encontros emocionantes, de realidades.

O vocalista da banda, Rogério Flausino, conversou com a reportagem de OFuxico. Uma simpatia ímpar de quem já está na estrada há tempos e segue com o mesmo carinho e carisma de lá de trás com todos, fez nossa entrevista ser leve, com momentos de risos e muito pé no chão ao contar sobre esses 25 anos de banda. Confira!

Ofuxico – Como está esse momento de pandemia, sem poder doar e sentir a energia da plateia?

Rogério Flausino – Realmente não está fácil, extremamente fácil ficar longe dos palcos. Na história do Jota Quest nunca ficamos tanto tempo sem fazer shows pra galera. Estamos de live em live, 1 ano e 3 meses, apenas fazendo lives abertas. Estamos preparando uma 5ª live em breve, na expectativa de que a gente possa voltar com os shows em breve. Realmente a gente sempre se alimentou muito dessa energia que vem da plateia. Somos uma banda estradeira e não vemos a hora de poder voltar pra sentir a energia da galera.

Pandemia X Comemoração dos 25 anos

OF – Fácil e Difícil: Sei que o palco é tudo pra você. E este ano comemoram 25 anos da Jota Quest. Não podem comemorar do jeito que mais gostam: no palco. Como é que vocês estão celebrando essa “boda de prata” da banda?

RF – Pois é, muito louco isso. Quando tudo isso começou em 2020 estávamos cheios de planos, a gente ia fazer a primeira turnê oficial na Europa em março 2020 e show foi a primeira coisa que caiu. Junho/julho faríamos os shows comemorativos dos 25 anos, turnê programada, com datas marcadas nos estádios. A pandemia veio e paramos com tudo. Imaginamos que 2021 faríamos isso e também não deu. 2022… aí celebraremos 25 anos da formação, vamos celebrar então o lançamento do primeiro disco, lançado do Jay Quest, que chegou em outubro de 1996. 2021 faz 25 anos desse lançamento e a gente está dando uma ajeitada na agenda pra 2022 ter essa turnê “Jota Quest 25 anos”, pra relembrar o que vivemos desde quando tudo começou. Ou teremos Jota Quest 27 anos; 28, sei lá. Daqui a pouco já é 30 (risos). O importante é a gente celebrar, comemorar. A banda segue unida, forte, na mesma formação desde o comecinho. Temos que celebrar a vida; celebrar que a gente tá com saúde, unido. Sou muito grato por tudo que a gente conquistou, as pessoas que nos ajudaram, os fãs, à galera toda. Então, assim, os projetos ainda não foram realizados agora, mas daqui a pouco, a própria turnê da Europa que comentei – parece que a Europa já está voltando – então já estamos discutindo e de repente retomaremos os palcos através de onde a gente parou, na Europa, Vai ser em breve e a gente conta com vocês. Mas tem que celebrar no palco, com a galera, cantando junto com a gente.

Jota Quest: 25 anos de formação original

OF – A amizade entre a banda se fortaleceu com essa distância obrigatória?

RF – E não é que se fortaleceu sim? Como falei a mesma formação, somos em cinco caras e temos duas famílias: as famílias originais, nossos pais, nossos filhos e tal, e a família Jota Quest, com cinco irmãos. Então nesse momento que não só o Brasil, mas mundo todo se pegou sem saber o que seria de nós, se estaríamos juntos e tantas coisas poderiam ter acontecido ao longo desses 25 anos e que a gente poderia não estar junto, ainda mais agora com essa coisa da pandemia, da saúde da gente, então sim, a gente se uniu muito. E isso se estende aos amigos, a galera que segue junto, o pessoal da gravadora, o pessoal que realiza nossos eventos, que a gente se relaciona há tantos anos. Então, assim, estamos mais unidos do que nunca em prol de tocar esse sonho Jota Quest pra frente. E a estamos muito felizes por estarmos juntos.

OF – Não viajando com shows, sobra tempo pra curtir família e fazer outras coisas?

RF – Isso sem dúvida foi um divisor de águas na nossa carreira e na nossa vida. Desde que me conheço por gente, a gente mexe com música e músico trabalha de final de semana, está sempre na estrada. E Jota Quest sempre foi pé em baixo, muitos shows. Minha filha Nina vai fazer 14 anos e Miguel tem 6 anos. Eles não sabiam o que era ter pai de final de semana. Agora estamos há 1 ano e tanto juntos, eles não estão aguentando mais. Daqui a pouco estão falando “pai não vai viajar não?” (risos). Um tempo maravilhoso, nos redescobrimos como família, como casal eu e Lud (Ludmila Alves), a gente tá  junto  há 15 anos. A gente conseguiu curtir nossa casa, as coisas do dia a dia, momento muito bom. Olhando pro lado bom da coisa, a gente até precisava um pouco desse descanso, essa parada pra repensar a vida, repensar as coisas que são realmente mesmo importante; pra refletir sobre o equilíbrio que a gente precisa ter entre trabalho, família. Coisas da vida em geral. Vida boa é vida equilibrada. Por esse aspecto, por esse viés, essa parada foi muito importante, talvez até pela minha idade, 49 anos, tava na hora de dar uma parada e reavaliar tudo. E quando voltar pra estrada, voltar com outro olhar, outro pensamento. É tempo de celebrar, cuidar da vida, da saúde, da família, dos outros.

Momento de compor

OF –  Chegam muitas ideias pra compor, nesse tempo de distanciamento social que vivemos?

RF – Isso é uma coisa bacana, porque quando a gente se viu impossibilitado de fazer nossos shows, de ir pra estrada, onde se consome maior parte do nosso tempo, vendo que não podia fazer a turnê “da gringa” nem do Brasil e logo começariam as lives, mas não é a mesma coisa, não se gasta muito tempo… As lives foram muito importante pra gente se manter presente no dia a dia da galera, pra poder tocar, realizar, sentir energia mesmo distantes, mas sobrou tempo exatamente pra gente cuidar da única coisa que a gente podia fazer e foi ótimo. Antes da pandemia, finalzinho de 2019,a gente já tinha começado um disco, tínhamos 12 músicas. Aí, impossibilitados de encontrar a galera, a gente decidiu lançar uma música de cada vez até o disco ficar pronto. Há um ano lançamos a primeira musica do novo álbum, “A Voz do Coração”, com participação do Rael. Foi um grande sucesso, chegou num momento muito interessante. Dois meses depois lançamos “Guerra e Paz” e lançaríamos a 3ª música no finalzinho do ano passado. Mas com a correria, final de ano, decidimos lançar a “Imprevisível” agora no começo do ano, porque faria mais sentido. É uma parceria com Airton Bovo (poeta), uma poesia muito bonita, sucesso, tocando em todas as rádios, primeiro lugar no pop, a gente tá feliz à bessa. Esse é o décimo álbum, numa época que celebramos os 25 anos da banda. As músicas restantes estão em estúdio, a gente tá finalizando um momte de música bacana. Olhamos canção por canção, lettra por letra… Tem umas 16 cancões pra chegar em umas 10/12 pra deixar o disco bem bacana.

Rogério Flausino, vocal da banda Jota Quest

OF –  Como foi a composição, arranjos e gravação de “Imprevisível”?

RF – Imprevisível estava na demo desde 2019. Eu comus à partir do poema de Airton Bovo, poeta paulista. Eu não o conhecia, foi um encontro imprevisível. A minha filha faz hipismo, estávamos em São Paulo. Ele falou que era amigo da Simone – que fez a capa do meu primeiro disco -, que era publicitário e poeta, se podia mandar uns poemas. Mandou junto um livro de poemas chamado “Matemática”, olha que legal esse nome pra um livro de poesia!  Ele me chamou a atenção, vi a letra e achei que o tema da imprevisibilidade combinava com o que todo mundo tava vivendo, com o que esse vírus louco e com o que a gente tá vivendo, nada mais imprevisível que esse vírus louco mexendo com a humanidade.  Fiz a letra, mostrei para os meninos da banda, eles gostaram, partimos para os arranjos. Fizemos o primeiro arranjo, que sofreu modificações e chegamos ao resultado final que tá agradando muito. A música ganhou uma versão acústica que recebeu um milhão de page views, em uma semana. Um número muito bom pra uma semana. A galera curtiu realmente e esse “terceiro filho do álbum”. “Imprevisível” , “todo dia é dia de um novo amor”, não é não? O que a música quer passar é que a imprevisibilidade pode ser boa: você pode, se estiver aberto, encontrar um grande amor, um propósito de vida, uma nova amizade e isso transformar sua vida. Não é legal?

OF –  O vídeo oficial de “Imprevisível”, com uma pegada futurista, já tem mais de 790 mil visualizações em poucos dias… Dançante, cheia de energia… como seguirão a divulgação desse novo trabalho?

RF – Foi o que acabamos de falar! Números bons tanto em rádios como plataformas. Muito legal o que o mundo digital tá trazendo pra gente, pra saber se a galera tá curtindo. Olha que interessante: você vai lançar um álbum onde 3 músicas já são conhecidas, queridas  – ou não né a galera podia não ter gostado – o disco chega fortalecido com músicas que já foram abraçadas pelos fãs. Então tem tudo pra gente curtir bastante esse JOta Quest novo que tá chegando.

OF – O que mais vem por aí nesse ano ainda de pandemia?

RF – Vamos lá: lançamos “Imprevisível” no começo do ano, queremos lancar o disco em agosto/setembro, não acho que voltamos com shows no Brasil este ano. Porém, a galera da Europa já está entrando em contato, o pessoal de Portugal anunciou para dia 16 de outubro um show no Campo Pequeno, em Lisboa, uma arena de shows incrível que a gente tocou em 2018. Tá rolando um movimento pra que a gente volte aos palco a partir da Europa, Lisboa e mais 2 ou 3 cidades que estavam com ingressos vendidos, que a gente repõe esses shows a partir de lá. E para os brasileiros que moram por lá será uma coisa linda. Essas são as principais novidades. Tem uma 5ª live do Jota Quest marcada, espero que seja a última (risos). Espero  porque o que a gente quer mesmo é fazer show ao vivo. Vamos aguardar!

Música linda!

OF –  Uma pergunta bem pessoal de quem ama a canção “O Vento”: como surgiu e para quem ela foi composta?

RF – O Vento é uma composição do Márcio Buzelin, tecladista. Música linda, gravada lá em 1998, do disco “De Volta ao Planeta”, nosso segundo álbum. inicialmente tinha baixo, bateria, estava na demo. Uma curiosidade sobre “O Vento”: Um dia no estúdio, finalizando o “De Volta ao Planeta”, faltava uma música. Aí eu e Márcio fomos pra dentro do estúdio, lá tinha um piano e começamos ensaiar. O produtor, Marcelo Sussekind, grande produtor musical, grande amigo, um cara muito legal, ouviu piano e voz e falou: “Vamos gravar assim: piano e voz”. Eu e Márcio gravamos ao vivo; eu numa cabine ele em outra com piano. Depois convidamos um grande músico, o Jaques Morelenbaum que fez o arranjo de cordas e a música ficou nesse requinte. E quando foi trabalhada em 1999 teve recorde: foi a mais tocada no mesmo dia, 81 vezes na praça de São Paulo, grande sucesso, adoro essa música. Agora ganhou um novo arranjo no acústico Jota Quest e representa muito na carreira da banda.

Confira a versão acústica de O Vento:

OF – Sobre vacina e momento que nosso país enfrenta. O que você pode nos dizer sobre?

RF – Gente, a vacina é a salvação, a proteção. Quantas vezes a humanidade passou com chegada de doenças. Quem dera tivesse vacina pro câncer, por exemplo e infelizmente ainda não existe. A Ciência avançadíssima, vem ao longo da evolução da humanidade demonstrando que cientistas têm condição de criar vacina pra quase todas as doenças. Então, quando a gente negligencia; quando o governo, a sociedade negligencia a ciência, está nadando contra a corrente. A ciência está aí para nos ajudar a vencer esse tipo de enfrentamento. Indiscutível que a vacina vai nos tirar dessa e que estejamos preparados, caso a gente enfrente coisa parecida pro futuro. Então, todos nós estamos em enorme expectativa pra que todos sejam vacinados pra poder voltar a vida normal.

Recadinho ao OFuxico:

“Galera do OFuxico eu queria agradecer essa oportunidade de bater esse papo, em nome da família Jota Quest. Obrigado pelo carinho de vocês, que a gente possa estar reunido muito em breve. Juntos ao vivo num showzão bem aglomerado, comemorando 25 anos da banda. Em 2022, vamos estar na estrada, tocando, celebrando a amizade da banda, essa história de canções que não teria sido a mesma se não fosse apoio de vocês da imprensa, e pelos nossos fãs queridos que a cada ano que passa nos entregam ainda mais carinho e isso faz toda a diferença. Ter um trabalho como esse que a gente recebe carinho 24horas por dia, os comentários das redes sociais… Sou grato e realizado de poder viver de música, de poesia. Valeu!

Confira o clipe de “Imprevisível”, de Jota Quest!

---