Suzana Pires fala de sua experiência como escritora de novela

Por - 21/07/13

Jorge Rodrigues Jorge/ Carta Z Noticias

É cada vez mais comum que, com o passar do tempo, rostos conhecidos da tevê se aventurem em atividades que os deixam nos bastidores. Mas Suzana Pires, que atualmente interpreta a cigana Safira em Flor do Caribe, já trilhava um caminho assim antes mesmo de atuar em novelas. Por isso, para a atriz, não chega a ser surpreendente que faça parte da equipe de roteiro da trama das 18 horas da Globo.

"É comum se impressionarem com a consistência da minha carreira como autora. Tenho duas peças em cartaz esse ano e já escrevi uns sete espetáculos. Até novela para celular eu já redigi", explica ela, que na Globo assinou o roteiro do extinto Os Caras de Pau.

Um detalhe, porém, torna esse período único em sua vida: essa é a primeira vez que a atriz participa, na tevê, de um projeto que também escreve.

"Desde o início, queriam que eu aparecesse ali. Traria um charme para esse trabalho. Só tinha de ser em um papel que me deixasse menos comprometida", conta Suzana, que em um único dia grava cenas de diversos capítulos.

Na história, a cigana aparece em flashbacks explicando o passado de Dionísio e Samuel, personagens de Sérgio Mamberti e Juca de Oliveira. De qualquer forma, por mais que venha desenvolvendo sua carreira de autora nos ltimos anos, Suzana nem cogita a possibilidade de deixar de atuar. Mesmo sabendo que, caso dê passos maiores no futuro, isso pode ficar cada vez mais difícil.

"Sempre me preparei para fazer as duas coisas. Mas tenho noção de que, com uma novela, é humanamente impossível assumir uma jornada dupla com um papel maior. É o tipo de coisa que só um seriado possibilita", avalia. 

O Fuxico: Você assinou com a Globo há quatro anos, para fazer Caras & Bocas. Hoje, já faz parte da equipe de autores de Flor do Caribe. Como avalia essa trajetória? 

Suzana Pires: Sinceramente, não acreditava que eu estaria ajudando a escrever uma novela já em 2013, porque é uma estrutura e responsabilidade enormes. Mas tem uma coisa: cheguei na Globo com uma carreira já trilhada fora dela. Tanto de autora quanto de atriz. Parece que tudo aconteceu rápido, mas não. Quando fui contratada como autora na emissora, o foco era para os seriados, até porque eu vinha escrevendo nesse formato para a Conspiração Filmes. Não foi algo que apareceu do nada.

OF: Como surgiu a possibilidade de entrar na equipe do Walther Negrão?

SP: Trabalhamos juntos em Araguaia, ele escrevendo e eu atuando. E foi um trabalho incrível. Como atriz, sempre me dei bem com os autores que trabalhei, isso no teatro e na televisão. Talvez por ser autora, não sei explicar. Com o Negrão, tive uma troca muito boa nesse período. Eu vinha de comédias na tevê e no teatro e me colocaram como uma heroína trabalhadora, sem um humor escrachado que eu trago na ponta da língua. Assim que eu comecei, entendi que ali eu estava mudando, de alguma forma, meus próximos anos como atriz. E o Negrão me viu dividida entre a novela e Os Caras de Pau, que eu escrevia. Passou a ver a série, me assistiu no teatro e quis ler outros textos meus. Depois de um ano e meio, quando ele precisava de uma pessoa nova na equipe, chegaram até meu texto. Mas essa é uma decisão que cabe à Central Globo de Desenvolvimento Artístico, a CGDA. Cada autor tem um planejamento. Como atriz e autora, o meu é um pouco mais complexo.

OF: – De que forma é decidido se você investirá mais como autora ou como atriz em determinado período? 

SP: Nesses anos de Globo, fiz quatro novelas. Durante todas elas, eu estava em algum projeto de roteiro à parte. No final do ano passado, avaliou-se que essas investidas deram certo. Então, ficou decidido que, em 2013, eu desenvolveria mais minha carreira de autora na emissora, e não a de atriz. Eu até participo de Flor do Caribe, o que dá um charme especial a esse trabalho, já que é minha primeira vez atuando e escrevendo no mesmo projeto. Mas é uma participação pequena, apareço muito esporadicamente. 

OF: A faixa das 18 horas tem um histórico recente de audiências baixas. Agora, como autora, mudou sua relação com esses números?

SP: Eu sempre fui atenta a isso, até porque eu ficava ligada na bilheteria das minhas peças de teatro. Mas não trabalho só por isso. Essa é a grande diferença. Quanto mais você se empenha naquilo, mais pessoas vão se conectar com seu trabalho. É nisso que eu acredito. Fazer sucesso no teatro é algo fenomenal, ainda mais quando você não faz tevê. Quando você vive isso na pele, percebe que audiência é a última coisa que se pensa durante o processo criativo. E, em uma novela, esse processo só acaba no final. Flor do Caribe tem a energia das nossas reuniões, que é solar e para cima. Existe uma libido forte no contar dessa história. Acho que isso tem feito a diferença. 

OF: Como funciona a divisão do trabalho entre a equipe de roteiro? Tem algum núcleo para o qual você escreva mais? 

SP: A gente tem uma criação muito coletiva. As ideias são postas na mesa e o Negrão é nosso maestro. Ele conduz tudo para o lugar. O que faz uma boa reunião é a total falta de pudor. Então, combinamos que ninguém vai se sentir amarrado ali. Posso dizer que estou em uma fase de experiência criativa como jamais tive. É o trabalho mais rico artisticamente que já fiz.

OF: Você já pensa em alguma sinopse para apresentar para assinar como titular em uma novela?

SP: Acho que esse é um passo muito sério e ainda não consigo pensar em uma estrutura de novela sozinha. Mas, com certeza, partiria para uma comédia bem louca. Essa é a minha língua. Minha comédia no teatro sempre foi muito popular. Então, não teria como ser diferente na tevê.

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