Um beijo, Seu Mamed!

Por - 04/05/20

Divulgação/TV Globo

Tem sido uma rotina de perdas incessante… e não precisa ser de pessoas próximas. A pandemia tem afetado emocionalmente a todos nós, que temos vivenciado rotineiramente a constante notícia de mortes em profusão.

Nesta segunda-feira (04) Aldir Blanc nos deixou. Mais um para a lista de vítimas da Covid-19. E ainda estávamos procurando entender o que houve, já que ele – ao ser internado – ainda não tinha conformação do coronavírus, e eis que chega a notícia da morte pesada de Flavio Migliaccio. Motivo? Não sabemos. Mas eu arrisco dizer que a covid-19 contribui.

O veterano ator de 85 anos estava em seu sítio, na cidade de Rio Bonito, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, recluso por conta da quarentena proposta pelas autoridades de saúde. Seu corpo foi encontrado pelo caseiro. Junto dele, uma carta na qual citava o descontentamento com o momento que atravessamos. Migliaccio ressaltou seu descontentamento com o ser humano e pediu que prestemos atenção às crianças.

Como não parar para refletir sobre os efeitos da pandemia? Estamos diante da urgência de ajustar rotinas e novos comportamentos. O confronto com a realidade não é fácil! Essa onda de ansiedade demanda o enfrentamento diário das situações de perda. Nossa saúde mental ainda não consegue se adequar ao luto. À tudo, a gente se adapta. Ao luto, não. E nem queremos!

Especialmente hoje, em conversa com amigos jornalistas, pontuamos que as situações vivenciadas nesse período de quarentena tem nos levado a conflitos entre expectativas, crenças, atitudes, percepções, informações, concepções e tudo isso leva à ansiedade. Sem falar naquela sensação de remoer como será o nosso amanhã…

Poxa, Órfãos da Terra acabou outro dia! Ainda tenho comigo a sacolinha cenográfica da pagaria do Seu Mamed! E, mais uma vez, temos a certeza de que a vida é sim um sopro. O dele, foi de "chega". Um sopro revestido de grito de "basta". À causa da morte de Flavio Migliaccio, aos 85 anos, lúcido, em plena atividade, pode se acrescentar o descaso à sua sensibilidade. Flávio se foi de amor pelo Brasil. E pediu que cuidemos das crianças. As mesmas que ele fez sorrir com Xerife, o Jazão (Caça Talentos), o Barnabé (As Filhas da Mãe), o Iaú (Sítio do PicaPau Amarelo), o engraçadíssimo Seu Jacques (Duas Caras), o Karan Ananda (Caminho das Índias), o Seu Chalita (Tapas e Beijos), entre outros.

Quanta dor! Um beijo, Seu Mamed! Faz um samba aí pra ele, Aldir!

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