Oscar às 17:08

‘Meu Pai’ é um retrato dolorido do momento que a sanidade vai embora

Divulgação

Um relógio, um frango assado para o jantar e um quadro na parede da sala.

Quem vive ou já viveu um episódio de demência em sua família ou com amigos próximos, certamente sentirá um forte aperto no peito, ao assistir o filme de Florian Zeller.

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, desde o pouco visto “Vestígios do Dia”, de 1993. O ator vai muito além e presenteia o espectador, com uma das melhores construções dramáticas jamais mostradas em filme. Seu papel tem tantas nuances e tamanha complexidade, que fica difícil imaginar como alguém pode ir além, em uma intepretação.

Baseado na peça "Meu Pai", do autor Zeller , o longa acompanha a rotina de Anthony (Hopkins), um viúvo que mora sozinho, em um bom apartamento, em Londres. Sua filha Anne (Olivia Colman) vive o drama de conseguir convencer o pai, que ele precisa de uma cuidadora, mas ele insiste em não aceitar sua complicada realidade. Sofrendo de demência, com sua mente em franca degeneração, o personagem central desta trama poderia perfeitamente ser seu pai, irmão, marido ou grande amigo e isso cala profundo no peito de qualquer mortal.

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Nunca a doença fora retratada com tanta verdade e delicadeza. Durante 1h37 acompanhamos a história pelo olhar de Anthony e em muitos momentos sentimos na pele, a mesma confusão vivida por ele. Deparamos com pessoas que vem e vão, sem avisar se são ou não reais, rostos que se misturam e uma linha tênue, entre realidade e delírio que aos poucos vai se apagando.

O trabalho de direção e direção de arte é brilhante e embala a soberba interpretação de Hopkins, que cria um clima de melancolia e incômodo  devastador.

"Meu Pai" confirma que, aos 83 anos, Anthony Hopkins encontra-se em total controle de seu ofício, injetando veracidade, emoção e complexidade a um personagem, que em mãos menos hábeis, poderia facilmente escorregar para a caricatura.

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Anne vivida por Olivia Colman (vencedora do Oscar de Melhor Atriz por "A Favorita"), completa o cenário, nos fazendo sentir o carinho que sente pelo pai e ao mesmo tempo a angústia de ser obrigada a decidir o seu destino.

Anthony apresenta sinais de demência causados pelo Mal de Alzheimer e à medida que sua doença avança Anne se esforça para entender o comportamento imprevisível do pai, realidade que a obriga à tomar decisões difíceis, porém importantes, para a vida de ambos.

O espectador se sente confuso, sem saber o que é verdade e o que não é, como se estivesse dentro da mente do protagonista, num labirinto onde não é nada simples encontrar uma saída. O roteiro para o cinema tem a assinatura de Christopher Hampton ("Ligações Perigosas").

As interpretações de Anthony Hopkins e Olivia Colman, ambos merecidamente indicados ao Oscar, de Melhor Ator e Melhor Atriz Coadjuvante, salta aos olhos diante da tela. O astro britânico, que já ganhou a estatueta pelo Hannibal Lecter de "O Silêncio dos Inocentes" (1991), volta a mostrar seu talento raro e sempre tão singular, nesta que representa uma de suas melhores atuações, nos últimos anos. Sua maneira de falar, seus gestos e, principalmente, seu olhar, transmitem uma assombrosa verdade e as marcas implacáveis, de um caminho sem volta.

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Muitos filhos passam por isso, com seus pais, quando estão diante de uma questão grave de saúde. Assim, o espectador cria empatia e se compadece com a personagem e os conflitos que tem para decidir o que fazer, por mais doloroso que seja.

Além das indicações nas categorias de Ator, Atriz Coadjuvante e Edição: "Meu Pai" também concorre como Melhor Filme, Roteiro Adaptado e Design de Produção. Todas merecidas.

Independente de qualquer prêmio, “Meu Pai” merece ser reconhecido por sua excelência, ao tratar de assuntos tão complicados, com pungência e sensibilidade. Ele fica na memória de quem assiste e provoca reflexões importantes e doloridas. Apenas os bons filmes são capazes de fazer algo semelhante.

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