Saiba mais sobre a esquizofrenia, doença que tirou a vida do ator Betito Tavares

Por - 19/12/22 às 16:40

betito tavaresReprodução/Instagram

Betito Tavares, o Cardosinho da novela “Coração de Estudante” (2002), morreu na última quinta-feira, 15 de dezembro, aos 42 anos. De acordo com familiares, o ator sofria de esquizofrenia, uma doença psiquiátrica que leva a depressão. “É muito difícil ver um transtorno tirar o brilho tão grande de pessoa. Há muito preconceito e ele ficou sozinho. Tinha fama, visibilidade e, de repente, a doença tirou tudo”, revelou a irmã, em entrevista ao UOL.

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Ao portal, a irmã de Betito contou que além de os familiares demorarem a perceber os sintomas, o próprio ator não quis aceitar o problema, fazendo com que a doença chegasse a um nível ainda mais avançado.

Wagner Gattaz, médico psiquiatra e professor de psiquiatria no Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo, foi entrevistado pelo também médico Drauzio Varella. “A esquizofrenia é uma doença psiquiátrica endógena, que se caracteriza pela perda do contato com a realidade. A pessoa pode ficar fechada em si mesma, com o olhar perdido, indiferente a tudo o que se passa ao redor ou, os exemplos mais clássicos, ter alucinações e delírios. Ela ouve vozes que ninguém mais escuta e imagina estar sendo vítima de um complô diabólico tramado com o firme propósito de destruí-la. Não há argumento nem bom senso que a convença do contrário”, disse.

“Antigamente, esses indivíduos eram colocados em sanatórios para loucos, porque pouco se sabia a respeito da doença. No entanto, nas últimas décadas, houve grande avanço no estudo e tratamento da esquizofrenia que, quanto mais precocemente for tratada, menos danos trará aos doentes”, explicou o especialista.

SINTOMAS

“Grosso modo, há dois tipos de sintomas: os produtivos e os negativos. Os sintomas produtivos são, basicamente, os delírios e as alucinações. O delírio se caracteriza por uma visão distorcida da realidade. O mais comum, na esquizofrenia, é o delírio persecutório. O indivíduo acredita que está sendo perseguido e observado por pessoas que tramam alguma coisa contra ele. Imagina, por exemplo, que instalaram câmeras de vídeo em sua casa para descobrirem o que faz a fim de prejudicá-lo.

As alucinações caracterizam-se por uma percepção que ocorre independentemente de um estímulo externo. Por exemplo: o doente escuta vozes, em geral, as vozes dos perseguidores, que dão ordens e comentam o que ele faz. São vozes imperativas que podem levá-lo ao suicídio, mandando que pule de um prédio ou de uma ponte.

Delírio e alucinações são sintomas produtivos que respondem mais rapidamente ao tratamento. No outro extremo, estão os sintomas negativos da doença, mais resistentes ao tratamento, e que se caracterizam por diminuição dos impulsos e da vontade e por achatamento afetivo. Há a perda da capacidade de entrar em ressonância com o ambiente, de sentir alegria ou tristeza condizentes com a situação externa”, explicou Wagner Gattaz.

O médico psiquiatra falou mais sobre os sintomas negativos da doença; dando exemplos. “Na verdade, 80% das esquizofrenias começam com os sintomas negativos. Delírio e alucinação chamam mais a atenção. Já os sintomas negativos ocorrem mais no íntimo das pessoas e causam menos impacto nos outros. É o caso do indivíduo que, certo dia, não vai trabalhar, não avisa ninguém e passa o dia todo deitado, tomando café e fumando. A família percebe o olhar distante, como se estivesse em outro mundo. Ele não se importa com o que acontece ao redor, não cuida da higiene pessoal nem se alimenta direito. Geralmente, esses sintomas marcam o começo da doença, a fase chamada tremapsicótico, marcada por tensão e ansiedade muito grande. A pessoa sente que algo está acontecendo, mas não sabe dizer o que é”, explicou.

EVOLUÇÃO DA DOENÇA

Ainda na mesma entrevista, Gattaz afirmou que a evolução da doença varia de indivíduo para indivíduo. “O processo esquizofrênico pode levar anos. Como já mencionei, na fase inicial, a sensação de que algo está acontecendo, mas o paciente não sabe o quê, é caracterizada por muita tensão e ansiedade”, disse.

Em outro trecho, o psiquiatra falou da relação da doença com o consumo de drogas. “O uso de drogas não é raro na esquizofrenia, não como causa, mas como consequência. Sabemos que, no início, algumas drogas exercem certo efeito sedativo, tranquilizante, o que nas fases de ansiedade e tensão pode melhorar o humor do paciente”. A droga mais procura pelo paciente é o álcool, seguida da maconha e depois, mais raramente, a cocaína.

O médico disse ainda sobre em que faixa de idade a esquizofrenia costuma se instalar. “A esquizofrenia se instala em pessoas jovens. O pico da instalação se dá, no homem, por volta dos 25 anos de idade. A mulher parece estar um pouco mais protegida. Nela, a doença ocorre mais tarde, por volta dos 29/30 anos”, contou.

ESTRATÉGIA PARA TRATAR A PESSOA COM A DOENÇA

“Como qualquer doença na medicina, quanto mais precocemente começar o tratamento, melhor. Não só porque o início precoce impede que a doença provoque danos mais sensíveis na personalidade do paciente, mas também evita que ele abandone sua rotina de vida, os estudos, sua atividade profissional, preservando a estrutura socioeconômica que melhora muito o prognóstico”, explicou o médico.

“Os medicamentos evoluíram muito. Hoje existem medicamentos com poucos efeitos colaterais que atuam nos sintomas negativos da doença.  O tratamento tem boa eficácia para fazer regredir os sintomas negativos. Em muitos casos de adultos jovens e adolescentes, é possível conseguir que eles não interrompam suas atividades e mantenham boa reintegração social, o que evita muitos danos causados pela esquizofrenia”, acrescentou.

ORIENTAÇÃO PARA OS FAMILIARES PARA LIDAR COM O DOENTE

“A primeira medida é esclarecer a família sobre as características da doença. Ela precisa entender que, se por acaso o paciente teve um surto de nervosismo ou agressividade (o que é raro em esquizofrenia), não se trata de mau caratismo ou maldade. Ele tem uma doença orgânica como qualquer outra, uma doença neuroquímica da qual é muito mais vítima do que agente malfeitor. Essa informação ajuda a família a compreender melhor o problema e as necessidades do doente”.

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